Depois de dois anos de severos danos causados pelo clima, há uma disparidade atípica entre as projeções sobre o tamanho da safra de café em 2023 – diferença que, segundo relatório divulgado em meados deste mês pela consultoria StoneX, chegou a ser de 20 milhões de sacas.
“Sempre há diferenças, mas a deste ano é absurda. É maior que a produção inteira da Colômbia, que é o terceiro maior produtor global e segundo maior produtor de arábica”, diz Leonardo Rossetti, analista da StoneX.
Uma explicação para isso é o próprio efeito do clima sobre os cafezais nos últimos anos. Após os estragos causados por secas e geada, esperava-se uma recuperação para 2023. E quando uma boa quantidade de chuvas começou a cair sobre as lavouras a partir de setembro, em época de desenvolvimento da florada, houve um otimismo exacerbado.
A disparidade entre as estimativas feitas por agentes públicos e privados sobre a produção de café é histórica. Mas a diferença fora do comum coloca, ainda, a elaboração de perspectivas entre oferta e demanda global em uma posição mais “delicada” devido ao peso do Brasil no cenário.
Apesar das distintas estimativas, o consenso entre bancos, consultorias e produtores é que a safra brasileira de arábica será “boa” e “normal”, contudo, entregará menos volume que o esperado por importadores entre o final do ano e começo de 2023.
Ademais, será mais volumosa mesmo em ano de bienalidade negativa, quando as árvores naturalmente entregam menos café arábica. Isso evidencia a desordem na natureza, que afetou a safra em 2022. O café robusta não tem ciclos bianuais.
A Conab, órgão do governo, projeta 55 milhões de sacas de café somadas as variedades arábica e conilon. Já a StoneX calcula 62,3 milhões de sacas, e a Consultoria Agro do Itaú BBA estimou 65 milhões de sacas. Consideradas as estimativas desses agentes, o ciclo crescerá entre 4% e 8%.
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Arábica
Somente em arábica, a Conab estima que os brasileiros possam produzir 37,4 milhões de sacas, com alta de 14% em relação ao ano anterior. Já o Itaú BBA projeta 42 milhões de sacas, alta de 5,5%; e a StoneX acredita que chegará perto de 41 milhões de sacas, ganho de 6% sobre o ciclo anterior.
Em março, o setor produtivo começa a dar sinais mais claros do quanto espera colher neste ano, já que à medida que os meses passam e as lavouras amadurecem, as estimativas ficam mais ajustadas, explicam produtores.
Sob efeito das estimativas – e das variações do câmbio -, a cotação média do arábica em Nova York neste ano já recuou 30%, para US$ 1,6927 por libra-peso, em comparação ao mesmo período de 2022, segundo o Valor Data. A média é do período entre janeiro e o pregão da última sexta (24).
No mercado interno, o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) recuou 32% em janeiro, para R$ 1 mil a saca, em um ano.