Após vivenciar três safras de soja com atividades programadas pelo projeto SULCO, e a primeira safra com uso do cultivo de milho, a Embrapa Clima Temperado e instituições parceiras divulgaram os resultados no Seminário Técnico Sulco-Camalhão.
Os dados demonstraram que a defasagem da produção de milho no RS e em SC pode ser resolvida com o potencial das lavouras e a tecnologia do uso do sulco-camalhão desenvolvidos em terras baixas.
Projeto SULCO
O Projeto SULCO é centrado na tecnologia de uso do sistema sulco-camalhão que permite as práticas de irrigar e drenar o solo, ou seja, amenizar a seca e o encharcamento das lavouras, possibilitando também o estabelecimento da diversificação de culturas numa mesma propriedade, pois esta tecnologia é indicada para os sistemas de produção de arroz, soja, milho e outras culturas.
As ações foram programadas para a cultura da soja, em rotação ao arroz, mas ao longo do Projeto, decidiu-se implementar áreas com a cultura do milho, já que esta cultura sofre uma defasagem de oferta diante da crescente demanda da avicultura e suinocultura na região Sul do País. O Projeto, então, realizou uma safra de avaliação em milho, cujos resultados positivos motivaram a equipe a idealizar a renovação do Projeto para dar continuidade aos estudos.
O uso da tecnologia nos três anos
O Projeto foi idealizado para três anos, com características de ações de transferência de tecnologias, não de pesquisa, e com término marcado para final de junho de 2022.
Segundo o pesquisador José Maria Parfitt, da Embrapa Clima Temperado, entre essas adaptações foi planejada a introdução da cultura do milho e o surgimento de ferramentas como novas funções na camalhoeira utilizada pela tecnologia sulco-camalhão e a apresentação de um aplicativo que apoia a decisão do produtor em qual momento ele deve realizar o processo de irrigação da sua lavoura.
O engenheiro agrônomo da Centeno AgroInteligência, Amilcar Centeno, disse que quando começaram o projeto era uma preocupação saber se a tecnologia sulco-camalhão era viável, ou não, economicamente.
“Muitas pessoas diziam que seria muito caro. Ao longo das três safras fizemos o acompanhamento financeiro de todas as áreas e em média os custos adicionais foram em torno de 3,5 sc/ha de soja para fazer a suavização, o camalhão e a irrigação, o que equivale dizer, que ganhamos em média 30 sc/ha com uso da irrigação comparado com as lavouras de arroz de sequeiro. É uma viabilidade muito alta para um projeto, o produtor está dando sustentabilidade para os resultados ano após ano”, avaliou.
Inovações do Projeto
Entre as inovações do Projeto estão o surgimento de ferramentas tecnológicas e a introdução de uma cultura de grãos, o milho. Estes dois braços dão ao Projeto uma visibilidade de interesse econômico e sustentável para a agricultura gaúcha, oportunizando a abertura de nichos de mercado.
A safra de milho
Para Amilcar Centeno, esta foi a primeira safra com uso do milho para os produtores envolvidos no Projeto. “Eles falam que se não tivessem irrigação na propriedade não plantariam milho, por que é muito arriscado, é uma loteria pensar no impacto que o clima pode ter na cultura do milho. Foram investidos custos considerados baixos, mas ainda não se tem comparativos. A intenção é seguir mais algumas safras com a cultura do milho”, disse.
O pesquisador da Embrapa Clima Temperado, José Maria Parfitt, fala que há muito interesse dos produtores de milho para que o
Projeto tenha continuidade.
Segundo os estudos do Projeto, as terras baixas tem um potencial de resolver o problema do milho no RS. Anualmente é importado cerca de três milhões de toneladas de milho vindos do Estado do Paraná e da região Centro-Oeste para produção de frangos e suínos gaúchos. “O RS pode se tornar um grande exportador de milho. Se plantarmos um milhão de hectares de milho, dentro dos quatro milhões de área de plantio para terras baixas, o problema de falta de oferta do produto está resolvido”, pontua Centeno.
Aplicativo para decidir hora de irrigar
A estudante pós-doc no Programa de Pós-Gradução em Recursos Hídricos da UFPel, Marília Alves Pinto Brito, desenvolveu junto à colega Letícia Burkett, uma ferramenta que indicasse ao produtor rural qual seria o melhor momento para irrigar a sua lavoura. A ideia surgiu pela observação das doutorandas que o produtor simplesmente irrigava a lavoura, utilizando a sua intuição. Havia a demanda de indicação do momento deste processo na lavoura.
“Nós colocamos no aplicativo um planejamento de irrigação, o qual agenda o usuário, por exemplo, para irrigar daqui cinco dias, determinada cultura. Parece simples, mas é muito importante esse planejamento, pois são várias ações que acontecem ao mesmo tempo durante a safra e o produtor tende a se perder nos detalhes”, explicou.
Ela comentou que receberam retorno de alguns produtores que utilizaram o aplicativo, os quais relataram que ajudou muito a irrigação nas suas áreas de plantio. “Os resultados do uso do conjunto tecnológico apresentado pelo sulco-camalhão comprovam que as lavouras que irrigam possuem maior desempenho produtivo. Nossa preocupação é fazer com que o produtor também não desperdice o recurso água, colocando-a fora, ou seja, irrigando sem necessidade. E também, não perca a sua lavoura por não irrigar. Além disso, dar a ele a opção de apostar em culturas de sequeiro, não tradicionais em terras baixas”, comentou.
O aplicativo pode ser utilizado para culturas agrícolas variadas, não é voltado somente para culturas de grãos.