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Sustentabilidade na pecuária leiteira passa pela gestão de recursos e uso de tecnologia

Enfrentar desafios de produzir com responsabilidade, gera oportunidades de melhoria de renda e qualidade de vida

A sustentabilidade possui três pilares: econômico, ambiental e social; e em todas as cadeias produtivas do agronegócio é preciso trabalhar de forma eficiente essa tríade. Na pecuária leiteira, ser sustentável também demanda equilíbrio da viabilidade econômica, do impacto ambiental e da aceitabilidade social.

Econômico

A produção leiteira nacional passou a crescer em velocidade apenas a partir do ano 2000, inclusive em produtividade. Passamos de 19,2 bilhões de litros para 33,5 bilhões, em 2017, um crescimento de 74% em 17 anos, segundo dados do IBGE de 2018. A pecuária bovina tem participação de 25% do Valor Bruto da Produção Agropecuária e o leite contribui com 12,5%.

Foto: Divulgação

Quando se fala da parte econômica o passo mais importante na atividade é a gestão dos recursos, utilizar de maneira consciente os produtos disponíveis e subsídios da natureza, para causar o mínimo impacto possível ao meio e aos custos.

O leite no campo vem alcançando preços recordes nos últimos meses, por conta da baixa oferta do produto no mercado, do avanço da entressafra com a combinação de seca, aumento nos custos de produção e desestímulo de investimentos na atividade.

Segundo a pesquisa do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), o leite captado em julho/22 e pago aos produtores em agosto/22 se valorizou 11,8%, chegando a R$ 3,5707/litro na “Média Brasil” líquida. Com isso, o valor médio do leite acumula avanço real de 60,7% desde janeiro/22.

“Nós estamos em um momento meio atípico, passamos pelo período de pandemia, conflitos e guerra e colhemos o fruto disso. Tivemos um abate grande de vacas pra atender o mercado de carne e isso reflete nos preços, o produtor está recebendo mais pelo preço do leite, mas também está pagando mais pra produzir leite. Pra superar esse momento, o produtor precisa de planejamento, balanceando preço do leite e custos, não fazer muitos investimentos e esperar o desenrolar de como o mercado vai se comportar”, analisa Luiz Gustavo Pereira, pesquisador da Embrapa Gado de Leite.

Ambiental

Já a parte ambiental, que está relacionada à forma de utilização dos recursos naturais disponíveis no planeta, na pecuária leiteira, é preciso aprimorar as formas de produção para serem mais responsáveis com o meio ambiente, garantindo que gerações futuras tenham acesso a recursos para suprir suas necessidades.

Foto: Divulgação

Em 2021 foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26), onde foi discutido ações para cumprir o Acordo de Paris. O Brasil assumiu compromissos de redução de gases de efeito estufa em 37% até 2025, meta que envolve mudanças em todos os setores produtivos do país, incluindo a produção de alimentos.

É por isso que todos os participantes da cadeia láctea: produtores, técnicos ou indústria, precisam se desenvolver cada vez mais e observar as possibilidades sustentáveis na produção de leite, como o uso mais eficaz dos recursos: da qualidade do ar, da água, do habitat da vida selvagem e da paisagem rural.

“Quando a gente produz de forma sustentável, respeita a reserva natural, quando faz uma nutrição adequada do rebanho visando a máxima produção, temos maior eficiência e diminuição de impactos negativos no meio ambiente. A fazenda que produz com eficiência e tem maior lucratividade, geralmente também tem uma avaliação positiva dos quesitos de sustentabilidade”, aponta.

A Embrapa Gado de Leite em Minas Gerais, começou os estudos sobre sustentabilidade da cadeia leiteira nos anos 2000, contemplando a emissão de gases de efeito estufa na atividade e que se tornou modelo do setor, como é o caso da pesquisa sobre a pegada de carbono do leite, estimar o principal contribuinte que é a emissão entérica de metano dos animais e buscar modelos para redução dos efeitos.

“Hoje como fruto desse desenvolvimento de pesquisas e modelos de produção, existe um direcionamento dos laticínios de começar a medir essas variáveis relacionadas ao meio ambiente, como uma empresa que já paga mais no litro de leite, para o produtor que segue um padrão emitindo menos gases de efeito estufa, tem certificação para bem-estar animal, tem eficiência no uso da água e etc”, explica o pesquisador.

Social

No lado social da produção leiteira, começa pela importância do leite que é o alimento mais consumido do mundo, com benefícios nutricionais que faz com que o ser humano consuma em todo o ciclo de vida, seja líquido ou processado em pó e derivados como queijo, iogurte e manteiga.

Foto: Divulgação

Já na parte de produção o leite desempenha um papel importante na geração de emprego e renda. De acordo com o IBGE, em 2020, o Brasil produziu 35,4 bilhões de litros de leite, graças a 16,6 milhões de animais em lactação e o trabalho de 1,1 milhão de propriedades rurais. Dessas fazendas, 71% produz cerca de 50 litros por dia, reforçando a relevância da agricultura familiar na cadeia produtiva de leite, ou seja, famílias que dependem do leite para sobreviver.

Cerca de 99% dos municípios do país, tem entre suas fontes de renda e subsistência, a produção de leite. Para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o valor bruto da produção nacional de leite, só considerando porteira a dentro, é estimado em 53 bilhões de reais em 2022. Os principais estados produtores são: Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás, Santa Catarina. Só Goiás produziu em 2020, 3,2 bilhões de litros de leite.

A atividade leiteira é responsável pela geração de 4,5 postos de trabalho por propriedade ou estabelecimento produtor, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Isso representa quase 5,3 milhões de empregos diretos e outros milhões envolvidos, indiretamente, nas várias etapas da cadeia produtiva de leite. Entre esses, estão transportadores, pessoal das indústrias lácteas, farelos, laboratórios e farmácias veterinárias, promotores e vendedores de insumos, entre outros.

“É a atividade agropecuária que mais emprega no país, gera renda e ainda que produz o alimento mais nobre e cheio de nutrientes e benefícios para a população humana, como a melhoria do desempenho cognitivo em crianças, redução de problemas cardiovasculares, melhor expectativa de vida para o trabalhador da atividade, para quem se alimenta do leite. É uma atividade que gera vida”, ressalta.

Sustentabilidade e Tecnologia

Para ter uma produção sustentável, todas as atividades do agronegócio passam pelo uso da tecnologia. Inovação que na pecuária leitura busca refletir e compreender a biologia dos animais, aprimorar técnicas genéticas para selecionar vacas mais produtivas e a aplicação de práticas de manejo e novas tecnologias para apoiar um alto nível de produção de leite; mas que as vezes não são aplicadas em pequenas propriedades rurais.

“Temos um grande número de produtores no Brasil e uma parte desses produz pouco por fazenda, são menos tecnificados e pouco eficientes. Entre 10 a 15% desse perfil de produtor está deixando a atividade por ano. Em contrapartida, o número de produtores que é mais eficiente, produz maior volume, tem aumentado em mais de 100% por ano. O caminho comum para ambos os perfis é adotar tecnologias, melhorar a gestão”, aponta Luiz Gustavo Pereira, pesquisador da Embrapa Gado de Leite.

Segundo o pesquisador, há muitas pequenas fazendas produzindo pouco leite e poucas grandes fazendas produzindo mais, ou seja, quem é pequeno produtor precisam se tecnificar para continuar no mercado, fazendo uma escrituração técnica e gerencial com um consultor ou órgão capacitado.

Foto: Divulgação

Exemplos de Tecnologia

Além do gerenciamento financeiro, com apoio de consultoria e softwares; é preciso investir em técnicas de manejo, como é o caso dos programas de inseminação artificial (IA) e seleção genética, avanços na análise de alimentos e na formulação de dietas; melhorias nos sistemas de ordenha; desenvolvimento no conforto das vacas e na estrutura dos ambientes dos animais; progresso no tratamento de doenças e implementação de programas de sanidade.

O aumento da produção de leite por vaca é importante para o produtor se manter na atividade, e isso passa pela conexão da viabilidade econômica e do bem-estar do rebanho leiteiro, onde os produtores se esforçam para seguir as melhores práticas de gerenciamento que beneficiam a produtividade e a saúde do rebanho durante todo o ciclo de vida; e com isso poupam recursos financeiros e ambientais.

Janaina Honorato
Janaina Honorato
Jornalista especialista em agronegócio com formação em marketing digital. Experiência de 9 anos com comunicação para o agronegócio em reportagens de TV, rádio, impresso e internet.
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