17.8 C
Goiânia
InícioNotíciasAgronegócioProdutor Rural: como se proteger das incertezas do mercado internacional?

Produtor Rural: como se proteger das incertezas do mercado internacional?

Aumentos frequentes nos custos de produção impactam a renda de quem vive do agronegócio

Combustíveis, fertilizantes e demais insumos. De 2020 para cá, om a pandemia e agora com os conflitos no Leste Europeu, o produtor rural precisou cada vez mais investir na gestão de custos da propriedade para conseguir margens de lucro, que vão ficando cada vez mais enxutas.

O consultor de mercado da Pátria Agronegócios e consultor técnico da Aprosoja em Goiás, Cristiano Palavro, fez uma análise das incertezas do mercado internacional que impactam diretamente nos negócios dos produtores rurais e orienta como se proteger dessas oscilações, garantindo renda e sobrevivência da atividade.

Fertilizantes

De acordo com Palavro, a crise com os fertilizantes não começou apenas com o conflito entre Rússia e Ucrânia, mas desde o ano passado, há restrições de importação desses produtos.

“No ano passado, a China que é um grande fornecedor de fertilizantes para o Brasil, trouxe restrições de exportações e a própria Rússia em novembro do ano passado, determinou cotas para exportação de fertilizantes, ambos visando proteger a oferta de fertilizantes para os seus produtores locais”.

Desde que as tropas russas invadiram o solo ucraniano, o preço dos fertilizantes disparou e outra preocupação surgiu: possível falta de insumos para asa safras seguintes.

“A situação se agravou, a Rússia fornece 24% de tudo que a gente consome de fertilizantes, a Bielorrúsia também envolvida no conflito fornece 19% do potássio que a gente usa aqui no Brasil. A falta desses mercados é compromete o fornecimento aqui no Brasil. É claro que a gente não pode afirmar, que esse fornecimento não acontecerá, mas com as sanções que a Rússia vem sofrendo, o que pode acontecer é o encarecimento, o atraso e até mesmo a incapacidade de entrega. Desde o início dos conflitos, os fertilizantes já subiram em torno de 20 a 25%. Isso é grave, porque os preços já estavam bem altos. E ainda não temos certeza do que virá pela frente.”

Para se proteger, Palavro indica que os produtores rurais fiquem atentos às compras de insumos da safra 2022/2023.

“O que o produtor rural pode fazer é se antecipar. Muitos produtores já tinham feito suas compras antecipadamente e aqueles que ainda não fizeram, é importante buscar seus fornecedores e mesmo com custos altos garantir parte de seu fornecimento, preferencialmente com empresas que dependam menos do fornecimento dos russos nesse momento. Sempre que você antecipa, você tem uma vantagem no sentido de garantir um preço ou o fornecimento de um produto”, orienta.

 Ferramentas de proteção

O consultor ainda orienta algumas ferramentas para se proteger de altas de preços na hora da compra de insumos ou queda na hora de comercializar.

“Outra coisa que se pode fazer também é usar as ferramentas que a bolsa traz hoje pra criar proteções, por exemplo criar proteções pra caso os preços despenquem da soja e do milho, o produtor tem um seguro ali de comercialização, que ele possa utilizar e que amenize um problema de redução de margens. É claro que essas ferramentas envolvem um custo inicial, mas é como se fosse um seguro de carro. Isso também acontece no mercado de insumos, você tem seguros de preço, que podem também ajudar o produtor nesses momentos, poucos produtores usam essas ferramentas, mas amplamente ofertadas no mercado”.

Milho

A valorização do grão vem sendo percebida há alguns meses a atingiu grande alta de preços, desde a explosão do conflito armado, muito pelo fato da Ucrânia ser a quarta maior exportadora de milho no mundo.

“O milho teve um fôlego de alta de preços, com a chegada da crise na Rússia e Ucrânia, já que a Ucrânia é um grande exportador de milho do mundo e eles vão ter muitas dificuldades pra colocar esse milho para fora do país. A Ucrânia não exportando, os países vão buscar outras origens, principalmente Brasil e Estados Unidos e Argentina. Se há uma demanda mais agressiva voltada para o Brasil, a tendência é que os estoques diminuam e que a gente exporte mais e o produto volte a ter uma agregação de preços”, explica Palavro.

Palavro explica que a situação com o fornecimento de milho pode ficar mais grave com a chegada da segunda safra, que está sendo plantada no Brasil.

“Principalmente no segundo semestre, há uma percepção de que o Brasil pode exportar mais, já que a safra da Ucrânia, ela vai estar sendo plantada já nas próximas semanas, porém como a situação lá não deve mudar nessas próximas semanas, dificilmente toda área que estava planejada para segunda safra será plantada e vai faltar produção no segundo semestre. O Brasil pode ter exportações mais agressivas, o que deve manter preços aquecidos aqui, que é uma situação um pouco complicada para os consumidores de grãos”.

Ração Animal

O milho é o principal ingrediente da ração animal no Brasil e os criadores vão precisar garantir a alimentação dos rebanhos, mesmo com a oferta do grão em queda.

“Para esses consumidores de grãos: pecuaristas, avicultores e suinocultores, é importante também se proteger, garantir milho, garantir compras antecipadas de milho e também usar proteções do mercado financeiro, pra evitar que altas agressivas nos preços venham prejudicar ainda mais as margens do setor”, indica o consultor técnico.

Taxas de Juros

No mercado também se observa o aumento na taxa de juros de crédito rural, financiamento e mais operações financeiras.

“Quanto ao Plano Safra a atenção esse ano é para o possível aumento nas taxas de juro, a gente viu que a Selic a taxa básica de juros está subindo agressivamente nos últimos dias, nos últimos meses, já estamos com uma taxa de dois dígitos aí novamente, 11,75%. Então é provável que a captação de dinheiro para o agro, tenha taxas mais agressivas esse ano, acompanhando a taxa básica de juros.”

“Em termos de disponibilidade de capital, acho que não teremos problemas este ano, o Plano Safra deve ser robusto novamente, mas provavelmente com taxas de juros um pouco maiores que em 2021. É preciso estar atento ainda as regras de impostos, se essa alta de inflação vai impactar alguma coisa nos subsídios do governo e também os combustíveis, se o governo vai tentar alguma medida pra baixar o preço dos combustíveis que é algo que afeta bastante o setor”.

Futuro

Segundo Cristiano Palavro analisa, os conflitos no Leste Europeu devem continuar por um tempo e com isso os seus impactos no mercado internacional e no agronegócio.

“Não acredito no fim dessa guerra no curto prazo e mesmo que essa venha acontecer, os problemas logísticos lá naquela região demorarão pra ser consertados e principalmente as sanções comerciais aplicadas hoje sobre a Rússia, não vão ser retiradas na minha visão, sem uma mudança de governo dentro da Rússia. Acho que o mundo vai querer dar uma lição muito grande principalmente no presidente russo, então acredito que os impactos ainda durarão por todo 2022 e mais além também” finaliza consultor de mercado da Pátria Agronegócios e consultor técnico da Aprosoja em Goiás, Cristiano Palavro.

Janaina Honorato
Janaina Honorato
Jornalista especialista em agronegócio com formação em marketing digital. Experiência de 9 anos com comunicação para o agronegócio em reportagens de TV, rádio, impresso e internet.
Nossas Redes Sociais
11,345FãsCurtir
23,198SeguidoresSeguir
Últimas
Postagens Relacionadas