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Preço do leite dispara para o consumidor; no campo o produtor segue com baixa rentabilidade

Altas nos custos e instabilidade de preços levam produtores a desistir da atividade em Goiás

O leite é considerado o alimento mais consumido do mundo. Seus benefícios nutricionais permitem que ele seja processado e consumido em todas as culturas de diversas maneiras: na forma líquida, em pó ou como queijo, iogurte e manteiga. A pecuária de leite tem uma importante contribuição para a sustentabilidade, o desenvolvimento econômico, o sustento e a nutrição da população mundial.

De acordo com o IBGE, em 2020, o Brasil produziu 35,4 bilhões de litros de leite, graças a 16,6 milhões de animais em lactação e o trabalho de 1,1 milhão de propriedades rurais. Dessas fazendas, 71% produz cerca de 50 litros por dia, reforçando a relevância da agricultura familiar na cadeia produtiva de leite. Cerca de 99% dos municípios do país, tem entre suas fontes de renda e subsistência, a produção de leite.

Goiás é o quarto maior produtor do país atrás de Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás, produzindo em 2020, 3,2 bilhões de litros de leite.

Alta da Cadeia de Leite

Nos últimos meses, a inflação, pandemia e os conflitos no leste Europeu, fizeram o preço dos alimentos nos supermercados dispararem. Com o leite a situação foi parecida. Para o consumidor, foi normal encontrar o alimento custando até R$ 10,00 o litro. Mas lá no campo, a realidade não é de bonança com o aumento do preço do produto. O que se tem observado é a desistência de muitos produtores por falta de rentabilidade.

Vinícius Correia, é presidente da Comissão de Pecuária de Leite da Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) e analisa que no campo, o produtor já vem amargando prejuízos há algum tempo, já que os custos mais dobraram em algumas situações, como por exemplo da ração animal, que representa 70% dos gastos da atividade e o preço remunerado pelas indústrias não acompanhou essa alta.

“O que aconteceu neste ano é um pouco atípico, muitos produtores deixaram a atividade por falta de rentabilidade. A gente tem reunião com os laticínios, com as indústrias aqui de Goiás e a gente fala o produtor está desanimando, abatendo vaca, estão parando de produzir, tem um ano e pouco quase dois anos que nós estamos falando isso. E agora a bomba arrebentou, porque a produção de Goiás caiu 35% só nos últimos 12 meses. No Brasil no último semestre já caiu 21%, então não tem leite no campo”, aponta.

Em Goiás, cerca de 70 mil produtores, entre pequenos, médios e grandes trabalham com a atividade leite, entre os principais fatores que desestimulam os produtores, está a falta de previsibilidade de preços, ou seja, o preço pelo leite vendido para a indústria só é conhecido pelo produtor muitos dias depois da entrega.

“A falta de previsibilidade é ruim, depois de 55 dias que você entrega o leite é que vai saber o preço”, analisa Vinícius Correia.

Segundo ele, o produtor de leite goiano, geralmente produz outras culturas para melhorar a renda, mas nos últimos meses, até o que dividia com a agricultura para produzir leite, o pecuarista tem arrendado para produzir grãos, que estão mais remuneradores no mercado. A Faeg trabalha para reverter a situação e dar estabilidade na cadeia leiteira.

“Temos trabalhado junto ao governo estadual, criamos uma Câmara de Conciliação para melhorar o diálogo com a indústria, pra ter uma certa estabilidade na cadeia produtiva, porque o leite é uma cadeia muito volátil, porque a soja e o milho você guarda, mas o leite é diferente, não tem como você guardar. Ordenhou a vaca, o caminhão tem que pegar. A cadeia do leite é mais complexa do que as outras, por ser um produto totalmente perecível”, analisa.

O ponto agora seria melhorar o diálogo entre produtor e indústria para trazer mais previsibilidade de preços.

“Criamos o índice de custo de produtor, assistência técnica do Senar em quase todos os municípios do estado, tentando fomentar a tecnologia, melhorar a cadeia produtiva”, afirma o presidente da Comissão de Pecuária de Leite da Faeg.

Vinícius acredita que o mercado deve estabilizar, que o preço encontrado pelo consumidor no supermercado, deve ficar na média de R$7 a R$8, mas que não tem jeito de voltar ao que era, R$3 a R$4, por conta da alta nos custos de produção.

“Atrás de uma caixinha de leite tem um universo. A gente trabalha 365 dias no ano, porque a vaca não tem férias, feriado. As vacas precisam ser ordenhadas todo dia, tem vaca que produz 70 litros de leite por dia, com médias de 35 litros. Trabalhamos praticamente 24 horas por dia, com três ordenhas por dia. Hoje o produtor de leite, tem que se tornar um bom agricultor pra produzir comida [para o gado]. Da fazenda o leite vai para o laticínio, onde é beneficiado e chega na gôndola”.

Desafio

O objetivo da Câmara é melhorar a relação entre a indústria e produtor, pra conseguir uma cadeia produtiva em que todos ganhem no final.

“Se a gente fosse uma cadeia mais harmônica, entre indústria e produtor, talvez a gente poderia hoje estar todo mundo ganhando dinheiro e o consumidor não sendo tão afetado com isso. Mas eu acredito que a gente tenha aprendido mais um pouco e dar passos para que a gente possa harmonizar tudo isso. E que o produtor e o consumidor não sejam penalizados com isso.”

Veja abaixo a entrevista completa do Safras News com Vinícius Correia, presidente da comissão de pecuária de Leite da Faeg.

Janaina Honorato
Janaina Honorato
Jornalista especialista em agronegócio com formação em marketing digital. Experiência de 9 anos com comunicação para o agronegócio em reportagens de TV, rádio, impresso e internet.
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