34.8 C
Goiânia
InícioDestaquePesquisadores querem estabelecer critérios para o manejo sustentável da Uruçu Amarela do...

Pesquisadores querem estabelecer critérios para o manejo sustentável da Uruçu Amarela do Cerrado

Pesquisadores e meliponicultores trabalham juntos para salvar abelha em risco de extinção

A abelha Uruçu Amarela do Cerrado (Melipona rufiventris), sem ferrão, capaz  de produzir até cinco quilos de mel por colônia ao ano, é o elo entre pesquisadores e técnicos da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), de instituições parceiras e meliponicultores (criadores de espécies de abelhas nativas) em uma pesquisa inédita para evitar sua extinção.  

O inseto é responsável pela polinização de imensas áreas naturais e agrícolas e pela renda de pequenos produtores e agricultores familiares. Sua raridade, na natureza e na meliponicultura (criação racional de abelhas nativas sem ferrão), faz com que seus produtos tenham maior valor agregado.  

A equipe envolvida na pesquisa quer detectar o grau de risco de desaparecimento da abelha e discutir e estabelecer critérios para elaboração de um plano de manejo sustentável, que possibilite sua conservação. O trabalho abrange, entre outros estudos, análises genômicas e genéticas de populações do inseto.  

O desmatamento de grandes áreas naturais para expansão agrícola ou para empreendimentos urbanos e o uso indiscriminado de agrotóxicos estão entre os principais motivos que colocam a espécie, nativa do Cerrado brasileiro, em risco. Soma-se a eles a predação de ninhos naturais para retirada criminosa de mel ou dos próprios ninhos, muitas vezes vendidos na internet, prática adotada por “meleiros”, o que pode ocasionar a morte do enxame. 

Por isso, desde dezembro de 2014 uma portaria do Ministério do Meio Ambiente (MMA) inseriu a Uruçu Amarela do Cerrado na categoria EN, ou seja, em perigo de extinção. Portaria mais recente (MMA no 148 de 07/06/2022) a manteve na lista de espécies ameaçadas, alertando a sociedade e a comunidade científica sobre as restrições relacionadas ao seu manejo. 

Campanha para salvar a Uruçu Amarela do Cerrado

A direção da AMe-DF está fazendo uma campanha junto aos meliponicultores para que eles colaborem repassando aos pesquisadores a indicação de onde há ninhos naturais.  E, ao mesmo tempo, para que cedam material de seus ninhos para enriquecimento da pesquisa e consequente geração de maior número de dados. “As localizações dos ninhos naturais e dos meliponários, bem como a identidade dos meliponicultores, são informações mantidas sob sigilo. Não há divulgação dos dados, pois assim evitamos saques dos ninhos naturais da espécie”, explica Pires, enfatizando que o estudo tem finalidade estritamente científica. 

As abelhas coletadas são levadas, para análises genômicas e de genética de populações, ao laboratório da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.  Para a conferência taxonômica, são encaminhadas ao laboratório de taxonomia de abelhas nativas da Universidade de Brasília (UnB), sob a responsabilidade do professor Antônio Aguiar. 

Após a análise científica, o próximo passo será convidar os meliponicultores, a comunidade científica e os órgãos reguladores para juntos tomarem conhecimento do grau de risco detectado e discutirem critérios para elaboração de um plano de manejo que possibilite a conservação da Uruçu Amarela do Cerrado. A intenção é que o manejo multiplicativo dos ninhos matrizes e a venda ou troca de ninhos sejam sustentáveis. 

“O levantamento de dados desse projeto é estratégico para viabilizar ações de prevenção ou mitigação de risco ambiental irreparável e de valor inestimável, com suporte direto a políticas públicas.”, assegura a líder da pesquisa, citando como referência o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Insetos Polinizadores Ameaçados de Extinção – Panip, regulamentado pela Instrução Normativa ICMBio nº 21/2018

Quem é a Uruçu amarela do Cerrado

A abelha nativa sem ferrão Uruçu Amarela compõe nove espécies crípticas, distribuídas em diferentes biomas, que formam o ‘complexo rufiventris’. Espécies crípticas são aquelas morfologicamente muito semelhantes, a tal ponto que para distingui-las é preciso análise genética. 

Dentre essas espécies está a Melipona rufiventris (Uruçu Amarela do Cerrado). O Cerrado é o bioma nativo dessa abelha sem ferrão, que possui alcance médio de voo de 2,5 km e estabelece colônias com população de até cinco mil abelhas em ocos de árvores em áreas remanescentes de Cerrado no Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo, Tocantins, Maranhão, Piauí, Bahia e Minas Gerais.

O mel da Uruçu-Amarela do Cerrado é considerado um dos mais saborosos produzidos pelas abelhas nativas.  A espécie está entre aquelas com maior capacidade produtiva. Sua produção pode chegar a cinco quilos de mel por colônia ao ano.

Fabiane Fagundes
Fabiane Fagundes
Jornalista especialista em agronegócio com formação em marketing digital e psicóloga em formação.
Nossas Redes Sociais
11,345FãsCurtir
23,198SeguidoresSeguir
Últimas
Postagens Relacionadas