Estudos apontam que a população mundial deve chegar a 10 bilhões de pessoas até 2050. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), para atender essa demanda, a agropecuária precisa aumentar entre 61% a 71% a oferta de alimentos.
Mais consumidores e cada vez mais, consumidores exigentes, que cobram uma produção de alimentos de qualidade, mas que também venha de uma atividade sustentável. Por isso, ao longo dos anos, vem se estudando muito como aliar a agropecuária com o desenvolvimento sustentável. E dentro dessa agenda, está o uso de bioinsumos.
Além da demanda sustentável vinda do consumidor, há também o mercado de fertilizantes importados que estão cada vez mais caros, principalmente após a guerra no Leste Europeu, entre Rússia e Ucrânia, grandes fornecedores mundiais desses insumos. O que impulsionou o desenvolvimento de políticas públicas, para fabricação de produtos biológicos para a agricultura, o que torna mais viável a sua compra, comparado com os químicos.
Diante desse cenário, o Governo Federal brasileiro criou o Programa Nacional de Bioinsumos (PNB), em 2020, com o objetivo de padronizar, desenvolver e incentivar o uso de produtos biológicos. Bioinsumo, segundo a lei, é todo e qualquer produto, processo ou tecnologia de origem vegetal, animal ou microbiana, que é destinado para produzir, armazenar ou beneficiar, produtos agropecuários, promovendo melhor crescimento de animais, plantas e microrganismos.
Pesquisas
A partir do programa do governo, uma série de estudos vêm sendo realizados com rizobactérias, que ativam os processos fisiológicos da planta, promovendo a absorção de nutrientes ou a sua disponibilização. O resultado são plantas mais robustas, resistentes a doenças e com maior produtividade, em culturas como arroz, feijão e milho.
A Embrapa Arroz e Feijão, que fica em Goiás, vem medindo os efeitos de bactérias no solo e nas plantas. O estudo, busca conhecer seis tipos de microrganismos, que já são reconhecidos por promover benefícios para plantas, mas ainda pouco estudados com culturas agrícolas ou cereais.
“Hoje se fala em uma segunda revolução verde, que é a utilização das bactérias e fungos promotores de crescimento vegetal. Esses microrganismos podem beneficiar as plantas por mecanismos diretos, que proporcionam a maior produção de um fitohormônio que ajuda as plantas a se desenvolverem melhor, a solubilização de fosfato; a produção de uma molécula que favorece a planta absorver mais o ferro, a fixação biológica de nitrogênio; e mecanismos indiretos, que proporcionam mais resistência da planta a pragas e doenças”, explica Adriano Nascente Pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão.
Prática
No laboratório, os pesquisadores selecionam cada uma das bactérias e criam uma solução, que é aplicada a sementes de arroz em tubos de ensaio. Foi observado que houve o desenvolvimento de mudas, que com o auxílio de programas de computador, apontou um maior brotamento e plantas com mais raízes.
As raízes de arroz tratadas com a bactéria Azospirillum, ficaram 86% mais longas do que o tratamento que não recebeu nenhum microrganismo, além de aumentar em mais de 100% o volume de raiz.
Para Adriano Nascente, coordenador desse estudo, isso representa uma maior capacidade de absorver os nutrientes do solo, que impacta em melhor produtividade.
Além de Azospirillum, há plantas sendo cultivadas em laboratório com tratamento de outras bactérias Bacillus, Buriti e Serratia, que mostram maior desenvolvimento de raízes em soja, microrganismos e milho; e que pode proporcionar de 24% a 31%, de aumento do comprimento de raízes.
Pesquisa em Campo
Em trabalho de campo, as equipes da Embrapa fizeram testes com bactérias nascentes e bactérias nativas, combinadas com fertilizante NPK, em lavouras de arroz de terras altas, na área experimental em Santo Antônio de Goiás. A ideia é maximizar os efeitos dos macronutrientes, por meio de sua associação com o microrganismo.
“Nós temos alguns microrganismos, focados na fixação biológica de nitrogênio. O nitrogênio, ele faz parte em 78% do ar que nós respiramos, só que as plantas não conseguem pegar esse nitrogênio do ar e absorver ele pra transformar em grãos, folhas, hastes. Essas bactérias através de um mecanismo de simbiose, junto com a planta, ela pega esse nitrogênio do ar e fornece para as plantas, com isso você reduz e muito a utilização de fertilizantes”, explica.
Solubilização do Fósforo
“Nossa agricultura foi acumulando muito fósforo com as aplicações no solo, sem que as plantas pudessem absorver tudo. Hoje uma série de bactérias fazem a solubilização de fosfato, quebrando essas ligações com ferro e com alumínio e com cálcio presentes no solo, e coloca esse fósforo disponível de novo para a planta. É outra forma que o produtor pode economizar na fertilização”, orienta.
Uso de Bactérias em Várias Culturas
De acordo com a pesquisa, toda cultura ou planta tem microrganismos que são vantajosos para o seu crescimento, mas que precisam ser identificados nos estudos, para acelerar o processo de desenvolvimento e resistência.
“Existe uma simbiose, as plantas produzem substâncias que atraem os microrganismos e os microrganismos produzem substâncias que ajudam as plantas a se desenvolverem melhor. Então, todas as plantas tem microrganismos que proporcionam melhor benefício para elas, o que nós estamos fazendo, é identificando quais são esses microrganismos em cada cultura, multiplica em laboratório e aplica nas culturas, para ter uma maior quantidade de microrganismos benéficos ali na rizosfera das plantas”, analisa o pesquisador.
Perspectivas
Para Adriano Nascente, a Embrapa busca nessas pesquisas estar ao lado do produtor rural, desenvolvendo tecnologias que vão beneficiar sua atividade e também o meio ambiente.
“A Embrapa trabalha para ajudar o produtor rural, por isso a utilização de bactérias que depois vão virar os bioinsumos, que é uma tecnologia que ajuda bastante a promover a sustentabilidade. Quando você utiliza esses bioinsumos, você vai reduzir o uso de fertilizantes químicos, reduzindo os custos de produção, a potencial contaminação do solo, do ar e das pessoas, e ainda proporcionando um controle biológico de pragas e doenças. Ou seja, além de proporcionar melhor desenvolvimento das plantas, aumento de produtividade, redução de custos, ainda proporciona preservação”, finaliza Adriano Nascente, pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão.