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Oferta maior de animais e preço da arroba em baixa preocupa confinadores

Assocon analisa que os pecuaristas extensivos precisam se intensificar para continuar na atividade com bons rendimentos

O Brasil é o segundo maior produtor de carne bovina do mundo, responsável por 16,2% do volume mundial, conforme dados de 2021, divulgados pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Fica atrás somente dos Estados Unidos. Mas segue como o maior exportador global da proteína.

A produção de carne bovina do Brasil em 2022 deve ser de 8,115 milhões de toneladas, no equivalente a carcaça, menor patamar em mais de 20 anos, enquanto as exportações devem avançar para novo recorde, de acordo com estimativa publicada pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) em agosto.

A disponibilidade de carne bovina per capita pode fechar 2022 em cerca de 25 quilos por habitante/ano, a menor de uma série histórica que começou em 1996. A oferta per capita já chegou atingir 42,8 kg/habitante/ano, em 2006.

O mercado interno consome 65% da produção de carne brasileira, enquanto o externo fica com os outros 35%, principalmente com destino à China.

Ainda segundo a Conab, o volume de exportações pode atingir 2,8 milhões de toneladas, frente aos 2,5 milhões de 2021, por isso o preço segue alto, mesmo com a demanda interna desaquecida.

Confinamento

Cerca de 20% desse total produzido vem de confinamento do rebanho. Em 2022, o Brasil deve abater 6,5 milhões de animais provenientes desse sistema, o que representa 1 milhão e 200 mil toneladas de carne bovina. Só em Goiás são cerca de 250 estabelecimentos agropecuários que fazem a criação intensiva.

Mercado que anda mais lento nesses últimos meses, com uma maior oferta de animais, preços da arroba mais fracos, o que vem desestimulando os pecuaristas intensivos.

“Está sendo um ano desafiador para o setor, o pessoal vinha de dois anos de alta, daí deu uma brecada, com problemas com a China, os preços estão andando de lado, nesse segundo semestre deu uma piorada e está desmotivando o pessoal a confinar. Os confinamentos pequenos e médios, que não são tão profissionais e utilizam o confinamento como ferramenta estratégica dentro do negócio deles, praticamente estão acabando. Há uma tendência de deixar de existir, cada vez mais estão terceirizando com boitéis”, analisa José Roberto Ribas, vice-presidente da Assocon (Associação Nacional da Pecuária Intensiva).

José Roberto ainda pondera que o mercado está diferente do ano passado, quando muitos pecuaristas planejavam mandar os animais para confinamento, mas que esse ano estão mais receosos, porque o preço da arroba vem caindo, além de uma oferta maior de animais além do esperado para o período. Somado a isso, as vendas de carne vêm patinando no mercado interno, com menor poder aquisitivo da população, o que fez o preço da arroba do boi gordo enfraquecer, desanimando os pecuaristas a intensificarem a produção e priorizando a criação a pasto mesmo.

“Os pecuaristas mais profissionais vão se preocupar mais com o mercado de boi, manejo de pastagens, fazer uma recria bem feita e vai terceirizar nessa fase da engorda para confinamentos profissionais que tem escala. Se ele não tiver escala e não for vocação do produtor fazer isso, o resultado não vai ser satisfatório”.

Custo de Produção

Outra coisa que vem desanimando há algum tempo o setor de pecuária de corte são os custos de produção, principalmente da alimentação, onde 50% da composição do que o gado come é milho, que há meses segue cotações elevadas.

“Nos últimos dois anos com a pandemia, explodiu o preço de todas as commodities, o milho foi junto também, mais que dobrou, chegou a momento que quase triplicou. Agora a arroba também aumentou bastante, então ainda estava fechando a conta. Mas agora, o milho não está cedendo muito e o preço da arroba está cedendo mais, então os custos estão bem complicados, mais ainda com essa guerra na Ucrânia que acaba afetando a cotação de grãos de forma geral, então todos os insumos, inclusive os fertilizantes também está tudo com preços altos. Estamos dependendo do desenrolar dessa guerra e muito da demanda chinesa”, explica.

Períodos de Confinamento

Os confinamentos profissionais rodam o ano inteiro com animais. Na época das águas no começo do ano, de janeiro a maio ficam mais ociosos e com uma taxa de lotação menor. Costumam aumentar no segundo semestre, mas segundo José Roberto Ribas, o ano vem sendo atípico, com período de baixa, mas com tendência de melhora para os próximos meses.

“Muitos pecuaristas não tem pasto, então tem que mandar esse gado pra algum lugar, poucas pessoas têm uma estrutura de pasto boa pra manter na seca. A gente está passando pela baixa do ciclo pecuário, com muita oferta de gado de reposição, o preço do bezerro abaixa e começa a ofertar, abater muita vaca, então o preço da arroba do boi gordo é pressionado para baixo. O preço do gado de reposição ainda vai baixar bastante, porque vai ter muita oferta e isso vai melhorar as margens, independente dos preços da arroba do boi gordo, melhorar ou não, se continuar baixa, você pagando mais barato no boi magro, você consegue melhorar a sua margem, que é o que importa”, pondera.

Mercado interno e externo

Para o vice-presidente da Assocon, o mercado de exportação segue satisfatório com boas margens dos frigoríficos, mas no mercado interno segue devagar com tendência de recuperação, pelo fato que começou a baixar o preço da carne para o consumidor, o poder aquisitivo da população começou a melhorar, o que vem aquecendo as compras.

“Eu acho que mais para o final do ano, com a eleição, copa do mundo no final do ano pela primeira vez, somado ao décimo terceiro vai dar uma impulsionada aí no mercado interno. Agora no mercado externo, está dependendo da China, porque a Europa vem enfraquecida nas compras, desde a pandemia, mas a Ásia está vindo muito forte no consumo de carne, então a exportação para lá está excelente. Agora gado que não pega China, que está com preço mais baixo”, diz.

Gestão

O mercado de confinamento em 2023 deve seguir bom ritmo, mas principalmente para os pecuaristas que se capacitam, tem planejamento e gestão na ponta do lápis para conseguir administrar e se manter na atividade.

“A gente da Assocon acredita que a intensificação da pecuária de corte é o único caminho pra sobreviver na pecuária, quem não seguir esse caminho vai perder espaço para agricultura. E pra se intensificar a criação tem que ser cada vez mais profissional, porque tem que ser eficiente nos processos, que são vários para administrar. Agora com a margem achatando ainda mais, vai forçar a intensificação. Quem não for bom de gestão, não intensificar não fica no mercado, vai sobrar só quem é eficiente”, finaliza José Roberto Ribas, vice-presidente da Assocon (Associação Nacional da Pecuária Intensiva).

Janaina Honorato
Janaina Honorato
Jornalista especialista em agronegócio com formação em marketing digital. Experiência de 9 anos com comunicação para o agronegócio em reportagens de TV, rádio, impresso e internet.
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