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Mulheres no campo: a força da presença feminina no agronegócio

Pesquisa da Rede de Mulheres Agro Mulher destaca que cerca de 60% das mulheres envolvidas no agronegócio possuem formação superior.

Que o mundo do agronegócio é um segmento dominado por homens, é de conhecimento de todos. A boa notícia é que nos últimos 15 anos a participação das mulheres no campo e na indústria agropecuária tem sido crescente. Hoje, cerca de 1 milhão de mulheres administra negócios rurais no país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE) e do Ministério da Agricultura. As propriedades sob a responsabilidade  das gestoras soma 30 milhões de hectares.

 Produtora rural, Ângela Van Lieshout é modelo dessa transição. Gaúcha de Não-Me-Toque, há quase trinta anos estabeleceu-se com o marido Eduardo no solo goiano para produzir grãos no município de Silvânia. Formada em Engenharia Mecânica, viveu por 20 anos cuidando dos dois filhos do casal e da família, até que em 2021 a vida reservou um novo recomeço.

“Meu esposo trabalhava com o irmão, até que em 2020 a vontade de seguir com negócio próprio nos fez separar a sociedade. E com essa mudança tive a necessidade de atuar mais diretamente no agronegócio. Ficou definido que eu cuidaria da parte financeira da fazenda. No início quase fiquei louca, peguei tudo do zero, fiquei a louca da planilha do Excel, e fui fazer cursos para me especializar.” Ângela Van Lieshout.

Ângela, com um olhar feminino, ajuda a dar um equilíbrio nos negócios e é a ponte no processo de sucessão familiar.

Experiente, Ângela reconhece que as mulheres ainda são minoria no agro: 80% das fazendas no país são administradas por homens. As diferenças aparecem também em relação ao salário e ao acesso a financiamento, de acordo com uma pesquisa realizada pela Agroligadas, entidade de mulheres do agronegócio, a multinacional Corteva Agriscience, a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e o Sicredi. O levantamento, feito com 408 mulheres que atuam no agronegócio, mostra que 56% das representantes femininas do setor acredita ganhar menos do que os homens. E um terço afirma ter menos facilidade para obter empréstimos bancários do que seus pares masculinos.

A  veterinária Saruy Guimarães, como milhares de mulheres, sentiu na pele preconceito de gênero, porém não se abateu, mostrou sua competência profissional, e hoje assisti mais de trinta produtores de leite, como técnica gerencial do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Senar Goiás e concilia a carreira com a maternidade, casamento e estudos.

A veterinária Saruy conversa com a jornalista Karla Cristina sobre os desafios da carreira no agro

Com certeza, a chegada de novas gerações ao campo tem contribuído positivamente nas questões de desigualdade de gênero. Pesquisa recente do Sebrae revela que as propriedades goianas dirigidas por mulheres cresceram cerca de 75%, em 10 anos, em comunidades rurais, grandes fazendas e agroindústrias. Quando o olhar se volta para as que se dedicam à agricultura familiar esse número chega a 70% de propriedades rurais sob posse delas no estado.

A Presidente da Comissão de Equideocultura da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás, Ana Amélia, reforça que incentivar a liderança feminina no campo é um compromisso da Faeg, que no mês de agosto reuniu mais de 400 mulheres em busca de  conhecimento e inspiração para serem protagonistas no meio rural.

Representatividade feminina no Agro

Fora da porteira das propriedades, a participação feminina no campo ganha projeção também nas ações políticas. À frente do sindicato rural de Buriti Alegre, em Goiás, Luanna Oliveira Inácio de Morais prova com resultados  que lugar de mulher também é no âmbito de decisões de políticas públicas. Por meio da articulação dela, o Sindicato do Produtores rurais da cidade assessora os produtores de aves nas negociações de preços com o frigorífico BRF, que atua na região.

“Todas as negociações de preço base entre a agroindústria e produtores são realizadas dentro da entidade sindical que conta com grupo de apoio e equipes qualificadas para tal. Se levarmos em conta o número apresentado, são mais de R$ 2,5 milhões mensais em remunerações pagas pelo sistema apresentado, girando em nosso município, por isso é muito importante que o nosso Sindicato se renove, qualifique e acompanhe essa crescente área, defendendo seus direitos e interesses”, diz Luanna Oliveira.

Empreendedorismo feminino no campo

Uma realidade que influencia diretamente no crescimento da participação feminina no campo é a profissionalização. Pesquisa da Rede de Mulheres Agro Mulher, que destaca que cerca de 60% das mulheres envolvidas no agronegócio possuem formação superior. Em Goiás, dados do Senar mostram a capacitação anual de 25 mil mulheres em diferentes setores do agro.

Iasminy de Paula Berquó faz parte desse grupo de mulheres que se apaixona pelo campo e busca no conhecimento o escudo contra o preconceito, aos poucos vai conquistando o espaço, a admiração e a autonomia financeira. Idealizadora da agroindústria Sítio Boca do Mato, Iasminy primeiro aprendeu sobre planejamento e potencialidades no campo através do curso Negócio Certo Rural, promovido pelo Senar Goiás.

“Tudo começou quando passei em um concurso público e fui ser professora de história em Cavalcante, região Norte de Goiás. Lá pude ter contato com o Cerrado e suas riquezas, me apaixonei pela natureza e tudo que ela oferece. Dois anos depois me casei e fui morar com meu esposo na Ilha do Marajó, no Pará, onde ele já trabalhava no Instituto Chico Mendes (ICMBio), lá tive contato com a Amazônia e sua diversidade. Retornamos para Goiás e aqui em Mambaí iniciamos o Projeto de produção de pasta de pequi, que acabou se transformando em um projeto muito maior”, comemora a empreendedora rural.

Além da agroindústria instalada no local, que produz itens com sabores do Cerrado, Iasminy destaca o turismo rural que oferta aos visitantes da região. Ela se orgulha de  toda a rede que se formou em torno do projeto que  atualmente possui  mais de 20 famílias que colhem os frutos, a matéria-prima para o funcionamento da unidade de processamento. Os derivados são comercializados em todo país e visionária, a jovem organiza as questões burocráticas para iniciar a exportação dos sabores do cerrado.

 Mas para a empreendedora o mais importante nesse processo todo é a comunidade unida em prol do meio ambiente e podendo garantir a subsistência das famílias da região com a sustentabilidade sendo exemplo dentro de casa.

OS NOSSOS FILHOS ESTÃO APRENDENDO QUE ISSO É SUSTENTABILIDADE, QUANDO SE PASSA DE GERAÇÃO PARA GERAÇÃO PARA QUE AS COISAS PERDUREM” DIZ IASMINY.

Políticas públicas e ações em prol da Mulher +Agr

O protagonismo das mulheres, a profissionalização dos negócios no agro e a importância delas na sucessão familiar foram debatidos pela Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás, no mês de agosto. O auditório da Federação ficou lotado de mulheres em busca de conhecimento para visualizar novos meios de atuação no campo. Na ocasião o presidente do Sistema Faeg/Senar, José Mário Schreiner, destacou o trabalho do Sistema Faeg Senar junto às mulheres em Goiás.

 “São 113 instrutoras credenciadas (48% do total), 81 técnicas de campo atuando (30% do total), mais de 150 mobilizadoras atuando, 20% das propriedades atendidas na ATeG são comandadas por mulheres, mais de 25 mil mulheres são capacitadas em treinamentos do Senar por ano.  19.089 mulheres foram atendidas no Programa Campo Saúde nos últimos 3 anos, 72.956 mulheres já fizeram EaD do Senar e as mulheres somam 51% dos colaboradores do sistema Faeg/Senar/Ifag”, destacou José Mário.

Desde o início de 2023, as mulheres do agro contam também com uma plataforma que colabora com a identificação e mapeamento completo da participação feminina no campo. O Observatório Mulheres Rurais do Brasil, idealizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento ( Mapa), responde à Agenda 2030, que tem como meta não deixar ninguém para trás, em especial ao ODS 5 – Equidade de Gênero (Agenda 2030 – ODS 5 de equidade de gênero). É uma ferramenta que oferece visibilidade ao trabalho das mulheres rurais e integra o sistema Agropensa da Embrapa.  A iniciativa do Governo Federal é  resultado de um trabalho multi-institucional envolvendo Mapa, Embrapa, FAO e o importante apoio do IBGE.

Clique aqui para conhecer o Observatório das Mulheres Rurais

Dados sobre a presença das mulheres rurais no campo, de acordo com o último Censo Agropecuário
•	Mulheres dirigentes de estabelecimentos rurais: 946.075
•	Mulheres em codireção: 817.019
•	Total de mulheres dirigentes: 1.763.094
•	Mulheres trabalhadoras rurais ocupadas: 4,37 milhões de mulheres
•	Total de mulheres no campo: 6,14 milhões de mulheres
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