O Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP) realizou um estudo que apresenta o potencial de mitigação de gases de efeito estufa (GEE) da soja brasileira cultivada sob o plantio direto (PD) e sistema de plantio direto (SPD). Visa também mensurar o incremento de remoção de carbono resultante da introdução do componente florestal em lavouras de soja por meio da implementação de sistema integração-lavoura-floresta (ILF) em diferentes cenários para o Brasil até 2030, sendo eles: implementação de ILF em 10%, 20% e 30% da área total de soja ao final do período.
Para atingir esse objetivo, utilizou-se um modelo de projeção e mitigação para diferentes ações de descarbonização da agropecuária, considerando as projeções de produção e de área plantada de soja e diferentes cenários de adoção de sistemas ILF até o ano de 2030, prevendo-se um incremento na área de sistemas ILF.
O agronegócio desempenha um papel fundamental para a economia brasileira e concedeu ao Brasil um protagonismo global na produção e exportação de produtos agropecuários. O setor responde por 27% do Produto Interno Bruto do país, 20% de todos os empregos e 48% das exportações. Essa relevância econômica se apoia num cenário de crescimento setorial constante ao longo das últimas décadas.
A disponibilidade de terras agricultáveis e as condições climáticas, associadas à constante geração e adoção de tecnologias, possibilitou que o Brasil ocupasse papel de destaque na produção e comércio global de alimentos. Paralelo a esse crescimento, houve aumento da pressão sobre os recursos naturais, evidenciando a importância da sustentabilidade da agropecuária e da economia como um todo. Dessa forma, fez-se necessário a contínua busca por sistemas produtivos que sejam ao mesmo tempo mais eficientes e poupem recursos naturais.
A metodologia de cálculo foi baseada na estrutura metodológica dos protocolos para cálculos de inventários de emissões de GEE que vêm sendo desenvolvidos há quase duas décadas pelo World Resources Institute (WRI) em parceria com o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD). Atualmente, as métricas estabelecidas pelo GHG Protocol são internacionalmente aceitas e utilizadas para o desenvolvimento de inventários corporativos, projetos e estudos relacionados a emissões e remoções de GEE.
Desafios do setor
Um dos grandes desafios relacionados ao crescimento econômico e setorial é o impacto ambiental das atividades agropecuárias e as mudanças climáticas. A agropecuária se destaca de forma dual: de um lado há a vulnerabilidade do setor a mudanças do clima e de outro tem-se as emissões de GEE geradas por seus processos de produção. Com isso, há a eminente preocupação em garantir o avanço sustentável dos sistemas produtivos agrícolas, necessário inclusive para a sobrevivência do próprio setor.
A soja brasileira é uma cultura “baixo carbono”, emitindo cerca de 9 Mt CO2eq ao ano. Entretanto, há grande potencial para que a cultura se torne não só́ “carbono neutro”, como também um sumidouro de carbono potencializando a participação dessa atividade/produção em um futuro mercado de carbono (permissão de emissões) em que o Brasil estaria inserido.
Contribuições do estudo
O estudo realizou uma análise quantitativa do potencial de mitigação de Gases de Efeito Estufa (GEE) da produção de soja no Brasil até o ano de 2030, considerando cenários de adoção da tecnologia de Integração Lavoura-Floresta (ILF), além da utilização da tecnologia de Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) e aceleração da adoção de Sistemas de Plantio Direto (SPD). Para tal, desenvolveu-se um modelo de projeção e mitigação para ações de descarbonização da soja, bem como os cenários de incremento gradual de ILF até o ano de 2030. Os cenários consideram a adoção de ILF em 10%, 20% e 30% da área total de plantio da soja, respectivamente.
A produção de soja brasileira atualmente já adota majoritariamente a tecnologia FBN por meio do uso de sementes inoculadas, evitando assim a aplicação de nitrogênio via fertilizantes nitrogenados e, consequentemente, a emissão de GEE associados aos produtos (adubos e fertilizantes) e às operações mecanizadas. O uso de sementes inoculadas evita a emissão de cerca de 68 Mt CO2eq por ano.
Sobre o Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia
O Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia é um centro interdisciplinar criado pela Fundação Getulio Vargas, com especialização em mudanças climáticas, uso da terra e uso da biodiversidade. A missão do Observatório é produzir conhecimento aplicado, capacitação técnica e disseminação de informações para auxiliar o país na transição para economia de baixo carbono.
Para saber mais sobre o Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia, acesse o site.