Os custos de produção vêm impactando a margem de lucro dos produtores de grãos das principais cidades produtoras no Brasil, principalmente quando se fala em fertilizantes e combustíveis. Mas, não é segredo que o produtor rural luta contra um mercado que oscila bastante e dependendo da época de compra, paga mais caro pelos insumos agrícolas.
De 2019 para cá, o mundo passa por constantes transformações: pandemia, crises energéticas, guerra entre Rússia e Ucrânia, além de mudanças climáticas; que provocam altas sequentes de preços dos insumos e, consequentemente alta dos produtos finais para o consumidor.
“Um dos setores mais afetados foi o de fertilizante, com a subida dos preços, que não é repentina, vem ocorrendo desde 2020, onde a gente teve a chamada tempestade perfeita, com fatores de oferta e demanda atuando ao mesmo tempo no mercado. A pandemia trouxe um cenário de incertezas, de lockdowns, os atrasos logísticos, que levaram as dificuldades de operação e para intensificar esse movimento tivemos as questões climáticas, como o furacão nos Estados Unidos, enchentes na China, que obrigaram algumas fábricas a fecharem as portas por determinado tempo”, explica Danyella Bonfim assessora técnica da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Para a assessora técnica, com uma demanda crescente do Brasil por fertilizantes e queda na oferta por conta dessas situações limitantes, fizeram os preços dispararem no cenário internacional.
“Com a guerra então, essas compras de insumos que costumam acontecer com antecedência, preocupou o produtor se ia ter esses produtos, se eles iriam chegar, mas não faltou produto no mercado, o Brasil se antecipou nas compras, buscou também novas fontes e teve uma posição mais neutra, tudo isso beneficiou o abastecimento no mercado interno e tivemos aí um volume recorde de importação de 41,6 milhões de toneladas, aumento de 22% em relação ao ano anterior, tivemos todo esse volume, mas no entanto, com preços extremamente altos”, pontua.
Danyella explica que nos picos do conflito no Leste Europeu, que é um dos grandes fornecedores de fertilizantes para o Brasil, o pico das cotações chegou a atingir 70% de aumento. Comparando agosto de 2021 com agosto de 2022, o cloreto de potássio teve alta de mais de 30%, para o Fosfato Monoamônico, o Map, o aumento foi de mais de 20% e a ureia subiu 16%, segundo os estudos da CNA. Insumos mais caros que impactaram nas planilhas de custo de produção do produtor rural.
Safra de verão 2022/23
Na safra 2022/23 que está plantada em boa parte do país, segundo especialistas, tem sido uma das mais desafiadoras para o produtor, com incremento considerável na hora de custear as lavouras de grãos. O agricultor se antecipou e de acordo com a CNA, mais de 90% deles, já garantiram as compras dos seus insumos, desde março de 2022, por conta de uma perspectiva de aperto na oferta, por conta da guerra.
“Para soja é esperado um aumento de 30% no custo operacional efetivo, em um estudo produzido na praça de Primavera do Leste (MT) e para o milho verão um incremento de 25% para a praça de Luís Eduardo Magalhães (BA), tudo isso puxado pelos fertilizantes. Os fertilizantes que ocupavam do custo da soja 30%, passaram a ocupar 39%, para o milho passando de 55% para 59%, seguido pelo incremento considerável dos herbicidas”.
O frete tem sido outra pedra no sapato do agricultor nesta safra. Também impactado pela guerra, o diesel acumula uma alta de mais de 40% no ano e isso onera os custos das operações mecanizadas, que neste momento de plantio, são as mais utilizadas na safra de grãos.
“No caso dos combustíveis, a gente viu que os preços do etanol e da gasolina começaram a cair, mas do diesel ainda são altos do que o observado no ano passado. A tendência é que esses preços para 2023 possam diminuir um pouco, mas que sejam maiores do que o observado no início desse ano”.
Segunda Safra 2022/23
Para o milho segunda safra, a assessora técnica aponta que a compra de insumos está um pouco atrasada, se comparada à temporada anterior, mas que não é algo a se preocupar ainda, já que a adubação é feita na metade de 2023.
“A gente vê a postura do produtor um pouco mais retraída, primeiro pra ver as condições de plantio da soja para definir esse volume de plantio na safrinha. Essa retração não é preocupante, porque há ainda um tempo de aquisição e também não há esse risco de desabastecimento. A gente vê essa movimentação tanto na compra de insumos, quanto na comercialização da safra também, o produtor aguarda um pouco para travar preços pra comprar insumos e vender a safra”, pondera.
Nesta safrinha, há um risco maior por se tratar de uma safra mais sensível, com o clima por exemplo. Na última temporada, tivemos reduções de produtividade no milho, muito por conta de geadas e estiagem. E o importante neste momento é fazer a gestão de custos e de riscos de maneira estratégica.
“O produtor fazer um ajuste no pacote tecnológico, exigir melhores práticas agronômicas, ver a real necessidade do solo para aplicação dos insumos e evitar desperdício. É recomendado que o produtor procure plantar dentro da janela de zoneamento de risco climático de cada cultura e região; e também a importância do seguro agrícola, porque a gente tem um La Niña se estendendo pelo terceiro ano consecutivo e trazendo possivelmente uma estiagem, ali na região sul. Também é preciso observar essas informações de mercado, para conseguir identificar o melhor momento de compra de insumos e venda da produção”.
Perspectiva 2023
Para 2023, Danyella Bonfim observa uma certa redução nos preços dos fertilizantes, como potássicos e fosfatados e alta nos preços dos nitrogenados.
“Nas perspectivas de importações de fertilizantes para os próximos meses já é de um volume menor, porque o Brasil se antecipou e abasteceu seu estoque de insumos, então com a aproximação da segunda safra, esses preços devem dar uma acomodação falando de potássicos e fosfatados. Mas nos nitrogenados, o cenário é outro, principalmente por conta da crise de gás natural na Europa, em que o mercado observa espaço para novas altas e possivelmente tenha aumentos no preço da ureia”, analisa Danyella Bonfim assessora técnica da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
A CNA oferece conteúdos para os produtores rurais no site como: análises, acompanhamento de custos, preços em cartilhas, lives e podcats. Para acessar entre em https://cnabrasil.org.br/.