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Conflito na Ucrânia estimula exportações de milho e trigo do Brasil e enxuga oferta

O Brasil é um grande exportador de milho e pode voltar a figurar como segundo maior na temporada 2021/22.

A disparada nas cotações internacionais de milho e trigo por conta da guerra entre Ucrânia e Rússia gerou uma condição de mercado favorável para exportações desses cereais do Brasil, com potencial de apertar a oferta das duas commodities no país, segundo analistas e operadores do setor.

Enquanto os negócios estão lentos entre produtores e processadores brasileiros, com compradores nas indústrias locais relutantes em aceitar o reflexo da alta global de mais de 30% no trigo e de cerca de 10% no milho, desde o início da guerra, exportadores e importadores têm fechado acordos para garantir ofertas, contando com ajuda do câmbio ainda forte que facilita transações.

O Brasil é um grande exportador de milho e pode voltar a figurar como segundo maior na temporada 2021/22, superando a Argentina, conforme o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), caso a segunda safra do cereal se confirme boa.

De outro lado, o conflito na Ucrânia, quarto exportador mundial de milho, levanta temores sobre os embarques do país do Leste Europeu.

“Foram negociadas cerca de 500 mil toneladas de milho para exportação no Paraná, a preços mais elevados que o mercado interno pode pagar”, afirmou o analista Luiz Pacheco, da consultoria T&F, citando negócios da última semana.

Segundo ele, o mercado já estava apertado após a quebra da primeira safra de milho “antes da demanda vinda da guerra”.

“Agora deve piorar…”, afirmou.

Um corretor que atua no Paraná, que falou na condição de anonimato, confirmou tais negócios de exportação, dizendo que são para embarques em março e abril.

“Foram 500 mil toneladas ou mais, tudo para exportador”, disse ele.

Para o analista da StoneX João Pedro Lopes, a indústria local está relutante em aceitar pagar as valorizações refletidas no mercado internacional, considerando que o milho já está em patamares perto de máximas históricas no país.

Tanto que as cotações no mercado doméstico mudaram pouco em relação a valorizações da bolsa de Chicago, que atingiram máxima desde 2012, no caso do milho, e o maior valor em 14 anos, para o trigo.

Do lado da exportação de cereais do Brasil, as perspectivas são mais favoráveis, disse o especialista.

“A expectativa de aumento de exportação de milho é com a colheita da safrinha, na última safra veio um volume bem abaixo da média… E este ano a expectativa é que o Brasil tenha força para retomar esse papel mais relevante entre os exportadores”, comentou ele, acrescentando que a safra vai bem no momento.

A StoneX estima exportação de 40 milhões de toneladas em 2021/22, quase o dobro do visto no ano passado, quando a seca e geadas quebraram a colheita.

Repetição no trigo

“O mercado interno parou à espera de alguma acomodação dos preços, mas acho difícil, enquanto esta guerra durar… E eu acho que vai longe”, acrescentou Pacheco.

“Só no Rio Grande do Sul foram negociados mais 100 mil toneladas de trigo (na semana passada), comprometendo seriamente a disponibilidade interna e as margens dos moinhos.”

Com isso, a consultoria T&F revisou de 2,5 milhões para 2,7 milhões de toneladas a estimativa de exportação de trigo do Brasil no período 2021/22 (agosto/julho).

A maior parte desse volume já foi despachada, considerando que de dezembro a fevereiro os embarques do país somaram cerca de 2 milhões de toneladas do cereal, o dobro do volume de todo o ano passado, segundo dados do governo e do setor privado.

O Brasil é um dos maiores importadores globais de trigo. Mas após uma colheita recorde em 2021 e um câmbio favorável fechou negócios para exportar volumes nunca vistos ao final do ano passado, e essas novas transações foram feitas recentemente.

“O preço do trigo brasileiro estava bem competitivo, com o dólar em alta e o mercado doméstico capenga, acabou tendo essa maior procura para exportação”, acrescentou Lopes, da StoneX.

Pacheco avalia que só haverá trigo disponível para negociação no país até no máximo meados de abril, e que o Brasil terá de contar basicamente com importações para o restante do ano até a chegada da nova safra, por volta de setembro.

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa, o Brasil vive um livre mercado, o que proporciona as exportações em conjunturas como essas, mas a alta pode estimular o plantio da próxima safra nos próximos meses, defendeu ele.

Barbosa disse ainda que a indústria brasileira está cautelosa enquanto usa seus estoques, e só deve retomar as compras ao final do mês. Sobre repasse de custos ao consumidor, ele disse que cada moinho tem sua própria política.

Fonte: Abitrigo/Reuters

Janaina Honorato
Janaina Honorato
Jornalista especialista em agronegócio com formação em marketing digital. Experiência de 9 anos com comunicação para o agronegócio em reportagens de TV, rádio, impresso e internet.
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