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Agropecuária brasileira se compromete com soluções para descarbonizar a produção

A descarbonização da agropecuária vem sendo discutida e encarada como tendência em todo mundo, com o objetivo de diminuir cada vez mais as emissões de gases de efeito estufa (GEEs), durante a prática das atividades no campo.

Não é um termo que seja novidade, nem para a agricultura brasileira e muito menos para pesquisadores. Nos anos 1970, com a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), começou o desenvolvimento e a construção de soluções tecnológicas para o campo, com a ideia de melhorar a produtividade de plantas e animais e consequentemente, diminuir quantidade de insumos e a expansão de áreas para a produção rural, o que permitiu reduzir os impactos ao meio ambiente.

Como resultado desses estudos, a agropecuária brasileira deu um salto em aumento da produção, decorrente do aumento dessa produção maior por área, graças ao uso das tecnologias que buscam mais do que a eficiência, mas também a sustentabilidade.

Presidente da Embrapa, Celso Moretti, mostra soluções sustentáveis do agro na COP26. Foto: Ministério do Meio Ambiente/Divulgação

Brasil na COP26

No fim de 2021, na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-26), os representantes do setor, mostraram iniciativas que já são realidade no agro como: o ABC+, o Plano de Agricultura de Baixo Carbono, composto por programas de floresta plantada, recuperação de pastagens, plantio direto, fixação biológica de nitrogênio, manejo de dejetos animais, integração lavoura-pecuária-floresta e o Renovabio, que estabelece metas de descarbonização para o setor de combustíveis, incentivando o aumento do uso de biocombustíveis na matriz energética de transportes do país. 

O presidente da Embrapa, Celso Moretti, afirmou o compromisso do setor com a agenda ambiental. “O mundo todo tem falado muito sobre a questão da sustentabilidade, da descarbonização, países e empresas têm feito seus compromissos de descarbonizar e se tem um setor de uma economia de um país que pode fazer isso, com tecnologia e conhecimento é o agro do Brasil. Produtos sustentáveis ​​que adotam melhores tecnologias fazem a produção”.

Soluções para reduzir emissões

Em primeiro lugar, Carne Carbono Neutro, que é um sistema de produção de carne bovina em sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Na carne produzida neste sistema, o gás metano (arroto do boi) é neutralizado pelo componente florestal. Para cada boi são apenas 20 árvores plantadas para alcançar este resultado. A meta da Embrapa é, nos próximos anos, colocar no mercado protocolos de leite, soja, algodão e couro de baixo carbono.

Na sequência o bioinsumo Biomaphos, um biofertilizante, que sequestra o fósforo do solo, nutriente que a planta necessita em grande quantidade. Todo o ano, sem o Biomaphos, o produtor precisa adquirir o fósforo no mercado, um produto importado. Na safra 2021/2022, a estimativa é plantar uma área de 3,5 milhões de hectares, com o bioinsumo, o correspondente a 5% da área de produção de grãos no Brasil. O Biomaphos foi colocado no mercado em 2019, em parceria com uma empresa privada e é fruto de um trabalho de 17 anos de pesquisa da Embrapa.

A criação da plataforma digital PronaSolos, que pretende mapear os solos do Brasil. O país tem apenas 5% do solo mapeado, com conhecimento profundo. Os americanos conhecem quase 80% dos solos detalhadamente, que permite estabelecer políticas públicas em agricultura, mineração, defesa.

A criação do bioinsumo Auras, que vem sendo testada em áreas de milho safrinha em situação de estresse hídrico. Plantas que receberam o bioinsumo comum passando com mais produtividade o período de seca.

Outra solução é a Fixação Biológica do Nitrogênio. É uma tecnologia a partir da pesquisa para adaptação de espécies cultivadas às condições tropicais, para substituir do uso de nitrogênio, considerando os custos e as condicionantes ambientais. Em um processo natural de interação planta-bactéria, a técnica incorpora o nitrogênio disponível no ar ao mecanismo de nutrição das plantas.

Além disso, a recuperação de pastagens degradadas. O país tem algo em torno de 90 milhões de hectares de hectares de pastagem com algum grau de degradação. Com o uso da tecnologia, essas pastagens seriam incorporadas na produção agropecuária.

“O mundo precisa saber que o Brasil pode dobrar sua produção de alimentos sem uma árvore, sem entrar na Floresta Amazônica, na Mata Atlântica, incorporando áreas degradadas e posteriormente recuperadas, lembrando que também está avançando em áreas de ILPF, com 17 milhões de hectares, e com meta para 2030 de incorporar mais 10 milhões, disse o presidente da Embrapa.

Os Gases de Efeito Estufa

Pedro Machado, é agrônomo, pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão e especialista em sustentabilidade da agropecuária e sequestro de carbono. Ele explica como funciona a produção de gás carbônico. “O carbono é um elemento químico simples, que pode se associar com outros elementos, resultando em diferentes moléculas, dentre as quais temos o gás carbônico (CO2) e o gás metano (CH4). Ambos são gases de efeito estufa, ou seja, juntamente com óxido nitroso (N2O) e outras substâncias, são importantes para a manutenção de uma camada na atmosfera da Terra permitindo a retenção de calor, mantendo o planeta a uma temperatura média de 15°C possibilitando a existência de vida”.

Pedro Machado, pesquisador da Embrapa e especialista em sustentabilidade da agropecuária. Foto: Arquivo/Pessoal

A produção de gás carbônico na agropecuária, está diretamente ligada à respiração de plantas, animais, microrganismos e pela decomposição de restos de plantas que ficam na superfície do solo. “Por meio da fotossíntese nas plantas, o CO2 é retirado da atmosfera para o crescimento das plantas, para a formação de sua estrutura. Os oceanos têm um papel preponderante na retirada natural de CO2 da atmosfera, evitando que o planeta atinja temperaturas médias superiores a 30°C, impossibilitando a vida.

Já a produção de metano é um pouco diferente. “Por sua vez o metano, na agropecuária, ele é produzido em quantidades grandes, somente nas áreas de cultivo de arroz irrigado por inundação e essa situação é relevante no RS e SC, onde está a maior produção de arroz no Brasil. Um grande emissor de metano é a fermentação entérica de bovinos, o popular ‘arroto do boi’, completa.

Emissões de Gases de Efeito Estufa no Brasil

O Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, fez um levantamento em 2020, sobre o total de emissões de CO2eq (equivalente de dióxido de carbono), que se refere a soma de todos os gases de efeito estufa emitidos por cada setor.

“O Brasil em 2020, atingiu 2,16 bilhões toneladas de CO2eq contra 1,97 bilhão de toneladas em 2019. O principal fator que contribuiu foi o desmatamento, principalmente nos biomas Amazônia e no Cerrado com 46% do total das emissões. O setor agropecuário, veio em segundo lugar com cerca de 577 milhões toneladas CO2eq, ou seja, 27% do total”, expõe o pesquisador da Embrapa Pedro Machado.

Dentro da agropecuária, cerca 65% das emissões são provenientes da fermentação entérica dos bovinos. Seguido pelos setores: transportes, indústria, geração de energia e emissões fugitivas na produção de petróleo e gás com 18%. Os processos industriais (PIUP – produção de ferro gusa e aço) vem na sequência com 5% e por fim, os resíduos como lixões e aterros sanitários com 4%.

Da porteira para dentro, a criação de bovinos de corte e de leite são os que responderam pela maior parte das emissões do setor pela fermentação entérica.  Em seguida, vêm os solos manejados ou as emissões diretas, gerados pelos dejetos de bovinos a pasto, juntamente com fertilizantes minerais. A terceira maior fonte de emissões do setor, é a calagem (adubação de correção da acidez por meio de carbonato de cálcio ou magnésio), como a maior parte dos solos do Brasil são ácidos, o processo de calagem é necessário para tornar o solo produtivo.

Soluções desenvolvidas pela Embrapa

A Embrapa vem pesquisando soluções há algum tempo, com o objetivo de descarbonizar a produção agropecuária no Brasil. Pedro Machado exemplifica uma das soluções, que é para o cultivo de arroz irrigado. “Trabalhos conduzidos na Embrapa, têm demonstrado que o sistema de irrigação do arroz por molhamento do solo, sem formação de lâmina d’água, tem resultado menor consumo de água e em menores emissões de metano com boas produtividades da cultura.”

Na pecuária uma das soluções é a precocidade do rebanho e a qualidade da pastagem. “Na bovinocultura de corte e de leite, o mais importante foram as ações para a recuperação de pastagens degradadas, que pela baixa qualidade do pasto, por exemplo, os animais têm pouca quantidade de forrageira e com isso têm dificuldade para digerir, produzindo mais gás de efeito estufa e por longos períodos, para uma baixa quantidade de carne produzida. Já bovinos sobre pastagem bem manejada, com boa quantidade de forragem e capim de qualidade na maior parte do ano, permitem abate em menos tempo, resultando em mais carne por quilograma de gás emitido”.

Como a produção pecuária é a maior emissora de gases, as pesquisas foram intensificadas para o desenvolvimento de soluções que diminuíssem a emissão. “O Plano ABC, por exemplo, e atualmente o ABC+, têm buscado apoiar as iniciativas para a recuperação de pastagem degradadas, com créditos a juros mais facilitados. Pastagem recuperada com forrageiras gênero braquiária ou panicum, com boa oferta para o pastejo, permitem aos animais ganharem peso em menos tempo e emitindo gases em menor quantidade”, analisa.

Fomento às Tecnologias

Na opinião de Pedro Machado, o que se precisa avançar é desenvolvimento de parcerias que fomentem e ajudem na construção de novas soluções. “Cientistas especialistas em solos tropicais, com conhecimentos sobre o tema, devem se engajar em mais colaborações, em projetos de pesquisa internacionais, receberem mais apoio financeiro, para poderem construir essas parcerias e também se engajarem em redes internacionais sobre temas, diretamente relacionados à agropecuária e meio ambiente, como mudança do clima, biodiversidade, combate à degradação das terras.

Além de desenvolver novas parcerias pesquisas, um ponto importante é divulgar que muitas dessas soluções já existem e podem cada vez mais, com eficiência, serem empregadas na atividade agropecuária, para desmitificar que o agronegócio é vilão. “É essencial se predispor para interagir com a imprensa e agentes sérios nas mídias sociais. Quanto ao setor produtivo, mostrar produtores e criadores, que adotam as boas práticas agronômicas, comprovadamente benéficas para a alta produtividade, com menor emissão de gases de efeito estufa”, finaliza o pesquisador da Embrapa.

Janaina Honorato
Janaina Honorato
Jornalista especialista em agronegócio com formação em marketing digital. Experiência de 9 anos com comunicação para o agronegócio em reportagens de TV, rádio, impresso e internet.
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