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Agricultura 5.0 é o próximo patamar da inovação aberta

Artigo: Luiz Fernando Frederico Digital Transformation Leader & Co-Founder de Haze Shift

Mecanização de lavouras e pecuária, agricultura de precisão a partir do uso de drones e de defensivos agrícolas em talhões específicos, internet das coisas (IoT). Todos esses elementos da Agricultura 4.0 nos fazem pensar no próximo nível da inovação no agronegócio, e revela o que é a Agricultura 5.0: quando a tecnologia vai além da produtividade e se conecta à saúde, à sociedade e ao meio ambiente.

Quando eu trabalhei diretamente no meio do agro, por 4 anos em uma cooperativa e 8 anos em empresas do setor, pude acompanhar de perto a transformação digital do agronegócio. Nessas organizações, sempre observei real preocupação do campo no Brasil com a meta da FAO-ONU em aumentar em 70% a oferta de alimentos até 2050 para acompanhar o aumento populacional. Afinal, o Brasil é o maior produtor de alimentos do planeta.

Por esses motivos, devemos acompanhar a Agricultura 5.0 e valorizar o que fazemos em nosso país. Neste artigo os especialistas Evan D.G. Fraser e Malcolm Campbel, respectivamente do Arrell Food Institute e do Escritório de Pesquisas de Inovação, ambos da Universidade de Guelph, no Canadá, destacam que abrange o conceito de Agricultura 5.0: a segurança alimentar, a redução do desperdício de alimentos acompanhada de uma alimentação mais saudável, junto com a promoção do bem-estar animal.

As quatro características da Agricultura 5.0

Assim como eu considero o caso do Leite Longa Vida sem conservantes um ótimo exemplo de aprendizado de inovação aberta e co-criação – entre produtores agrícolas, pecuaristas e indústria –, preciso também citar o que Evan Fraser e Malcolm Campbell definem como as quatro características da Agricultura 5.0:

  1. Aumento da produtividade: o agronegócio precisa fazer mais com menos. Isso significa aumentar a produção sem ocupar áreas de preservação. Ao checar números oficiais, vemos como o Brasil é exemplar nesse sentido. Observe o gráfico dos últimos cinco anos da Safra de Soja comparando o aumento de área de plantio com a produtividade. Enquanto a área plantada aumentou cerca de 18%, a produtividade disparou mais de 40%.
  2. Tecnologia com segurança alimentar: Como escrevem Evan Fraser e Malcolm Campbell: “as tecnologias da Transformação Digital do Agronegócio não são uma panaceia”. Elas refletem maior produtividade e precisam chegar a regiões remotas para promover a segurança alimentar do planeta e, também, a renda de pequenos produtores. Eu vejo isso como essencial para o desafio de aumentar a oferta de alimentos no planeta, mantendo preços acessíveis.
  3. Redução do desperdício e distribuição de alimentos: a FAO-ONU estima que de 25% a 30% dos alimentos são desperdiçados por ano. Isso é reflexo das más práticas de armazenamento e transporte, do campo à mesa. A Agricultura 5.0 demanda essa reorganização global, pois todos os países – incluindo desenvolvidos – carecem de programas que evitem essa perda. Há, aqui, uma demanda urgente por inovação nos setores logístico e de armazenamento.
  • Saúde e meio ambiente: Fraser e Campbell destacam a necessidade de rever a expansão da pecuária em prol de produções de alimentos de origem vegetal. Tipicamente, investimentos assim trazem boas fontes de nutrientes para seres humanos e, paralelamente, reduz a emissão de gases provocados pelo gado. Isso não significa acabar com a proteína animal, mas sim promover a saúde e a sustentabilidade com projetos com baixa pegada de emissão de carbono.

Chegou a hora de conectar Agricultura 5.0 à inovação aberta!

Eu vejo que a inovação aberta está altamente conectada às oportunidades da Agricultura 5.0. Inclusive, na questão de redução de desperdício e sustentabilidade, posso dar um exemplo para melhorar a eficiência energética e reduzir o consumo de água em frigoríficos de suínos. Dou aqui uma sugestão: um projeto de inovação aberta com fornecedores e startups do setor, com uma meta de redução no consumo de litros de água por quilo produzido de carne suína. Que tal explorar essa proposta?  

Pessoalmente, também vejo uma grande oportunidade para a indústria se conectar a produtores independentes (não integrados a indústrias ou cooperados). Ao se tornar um distribuidor de alimentos, commodities como soja ou proteína animal de uma grande empresa, programas de co-criação podem ajudar o pequeno e médio agroempreendedor a inserir equipamentos de monitoramento.

Oficinas de design estratégico, por exemplo, podem trazer ideias e mais integração entre a indústria e os produtores. Ademais, o agronegócio já tem bons exemplos de desafios de inovação aberta, como hackathons, e desafios entre startups, como o Ideas for Milk, da Embrapa, e o Programa InMove, parceria da Cresol com o Sebrae PR que busca impactar diretamente o agronegócio e  que potencializa a difusão da tecnologia da existência de projetos inovadores.

Tudo isso está atrelado também às melhores práticas globais de ordenha e transporte até o envase, feito com uma caixinha da Tetrapack para manter o alimento (no caso, o leite) disponível para consumo humano por ainda mais tempo. Além de tudo isso que citei, na pecuária de confinamento ou semiconfinamento é possível monitorar o gado remotamente a partir de equipamentos de startups como da Techagr. Também há equipamentos para verificar quanto cada indivíduo (aqui me refiro aos bovinos) ingeriu em alimentação e de água. Assim, pode-se fazer o reforço de vitaminas individualmente, melhorando a produção de leite e, no gado de corte, da carne.

Com programas do setor público e privado que compartilhem esse conhecimento – e disponibilizem o acesso dessas ferramentas para pequenos produtores –, o Brasil é capaz de avançar cada vez mais, reduzindo o uso de defensivos agrícolas nas lavouras, garantindo o bem-estar animal e minimizando o uso de antibióticos em animais.

Escrito por:

Luiz Fernando Frederico

Digital Transformation Leader & Co-Founder de Haze Shift 

 

Fabiane Fagundes
Fabiane Fagundes
Jornalista especialista em agronegócio com formação em marketing digital e psicóloga em formação.
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