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Novas cultivares de soja da Embrapa para o Centro-Norte do Brasil estão disponíveis para a próxima safra

Novas cultivares de soja da Embrapa para o Centro-Norte do Brasil estão disponíveis para a próxima safra

Uma nova cultivar de soja convencional (BRS 7582) e três novas transgênicas (BRS 7080IPRO, BRS 7482RR e BRS 8383IPRO) já podem ser utilizadas pelos produtores na próxima safra. As variedades apresentam elevado potencial produtivo, estabilidade de produção, ampla adaptabilidade e indicação para regiões produtoras do Brasil Central, incluindo Mato Grosso e o MATOPIBA, proporcionando rentabilidade para o produtor e sustentabilidade aos sistemas de produção.

Os materiais genéticos são, ainda, os primeiros selecionados em sistemas que utilizam bioinsumos e remineralizadores de solo. As cultivares foram lançadas pela Embrapa Cerrados (DF) e pela Embrapa Soja (Londrina, PR) em novembro do ano passado, em evento on-line transmitido pelo Canal da Embrapa no YouTube (assista aqui).

As sementes podem ser adquiridas junto a empresas sementeiras integrantes da Fundação Cerrados (61-99649-6967 / 3387-9219 / 3387-4175) e da Fundação Bahia (77-99822-8593), que já contam com as sementes básicas para multiplicação.

Sebastião Pedro, chefe geral da Embrapa Cerrados, destacou que o melhoramento genético é um trabalho de longo prazo, em que as variedades são desenvolvidas considerando as demandas de solo, de clima, de estresses bióticos e abióticos e, principalmente, de mercado, para o alcance da sustentabilidade no ponto futuro.

“E este é o ponto futuro para quatro materiais cuja genética começou a ser desenvolvida oito anos atrás, na Embrapa Soja, através de cruzamentos, continuou em Santo Antônio de Goiás (GO) e, depois, em 45 pontos em todo o Bioma Cerrado pela equipe da Embrapa Cerrados e as fundações parceiras – Fundação Cerrados e Fundação Bahia”, afirmou. 

Alexandre Nepomuceno, chefe geral da Embrapa Soja, agradeceu à histórica parceria com a Embrapa Cerrados, a Fundação Cerrados e a Fundação Bahia para o desenvolvimento das cultivares para o Brasil. Ele lembrou que o País é líder mundial na produção de soja, principal fonte de proteína barata.

“É estratégico, não só para o Brasil, mas para o planeta, mantermos os níveis de produção e conseguirmos produzir cada vez mais nos mesmos locais. E aí vem a importância das parcerias da pesquisa pública com o setor privado”, disse, salientando a necessidade de desenvolvimento de materiais mais eficientes no uso da água e no aproveitamento dos insumos.

Em depoimento gravado, Luiz Fiorese, presidente da Fundação Cerrados, lembrou que a Embrapa é a única empresa que ainda desenvolve variedades de soja convencional. “O País está evoluindo econômica e socialmente com as tecnologias e soluções que a Embrapa tem trazido para a toda a sociedade”, disse, agradecendo pela parceria e aos associados da fundação, que vão multiplicar e disponibilizar as sementes aos produtores.

Zirlene Pinheiro, presidente da Fundação Bahia, ressaltou que as pesquisas da Embrapa, da qual a entidade é parceira há mais de 20 anos, atendem aos anseios dos produtores de soja, com ganhos em produtividade, e que a Empresa busca resultados para enfrentar desafios como questões climáticas, nematoides, pragas e doenças.

“Temos grande orgulho de ter a Embrapa como principal parceira intelectual e de poder contribuir para o desenvolvimento da BRS 8383IPRO. Juntos, desenvolvemos outras variedades que têm nos atendido comercialmente aqui no Oeste da Bahia e em todo o MATOPIBA e que são destaque nos nossos ensaios em rede”.

Variedades resistentes ao estresse hídrico e adaptadas insumos regionais

“Nosso maior desafio é garantir a sustentabilidade do agricultor da porteira para dentro e contribuir com a sociedade brasileira, gerando divisas. Isso tudo por meio da ciência e do melhoramento genético”, afirmou Sebastião Pedro. Também pesquisador em melhoramento genético de soja, o chefe geral da Embrapa Cerrados apresentou as características das novas cultivares, que têm em comum eficiência fisiológica, estabilidade de produção, sanidade, resistência aos nematoides de galhas (Meloidogyne javanica e M. incognita) e de cisto (Heterodera glycines) e resistência à seca e a altas temperaturas.

Testada nas macrorregiões sojícolas 3 e 4 (Centro-Oeste, Rondônia, Minas Gerais, Sul de Tocantins e Oeste da Bahia), a cultivar convencional BRS 7582 apresenta ciclo de 103 a 113 dias, sendo considerada precoce, o que permite a safrinha de algodão no Mato Grosso e de milho no Planalto Central.

Nos ensaios de competição, foi vitoriosa em 62% das vezes, apresentando média de produtividade 5,7% acima dos padrões. De boa sanidade foliar, tem resistência ao acamamento, altura média de planta de 80 cm e é responsiva à fertilidade do solo.

Com ciclo superprecoce – de 95 dias no Oeste da Bahia a 105 dias –, a BRS 7080IPRO é tolerante ao nematoide de galhas M. javanica. Pode ser plantada com densidade de plantas mais elevada para aproveitamento da fertilidade disponível. Obteve vitória em 59% dos ensaios de competição, com produtividade 4,8% superior à média dos padrões.

Já a cultivar BRS 7482RR foi selecionada em condição de estresse hídrico no Oeste baiano e apresenta elevado teto produtivo. O ciclo varia de 102 a 114 dias. Alia os benefícios da tecnologia Roundup Ready® (RR) à resistência ao nematoide de cisto (H. glycines) raças 1 e 3. Pode ser usada no plantio de áreas de refúgio para a tecnologia Bt (composta pela inserção de genes da bactéria Bacillus thuringiensis, que produz uma proteína tóxica para alguns insetos). 

Por ser do grupo de maturidade 7.4, desenvolve-se bem em todas as áreas de produção das macrorregiões sojícolas 3 e 4, sendo relativamente precoce no Oeste da Bahia e no Mato Grosso. E como pode ser plantada de modo antecipado em setembro, permite a segunda safra.

Além disso, tem alta resistência ao estresse hídrico (quando a planta demanda mais água que a quantidade disponível). Nos ensaios de competição, obteve 70% de vitórias, com produtividade 7,3% acima da média dos padrões. Na safra 2020/21, em áreas de Goiás, Distrito Federal e Oeste da Bahia, obteve rendimento diário médio de 43 kg/ha/dia, de acordo com dados de empresas de consultoria.

Também selecionada em condição de estresse hídrico, a BRS 8383IPRO é uma variedade de ciclo médio (108 a 135 dias) com alto teto produtivo (potencial acima de 5 mil kg/ha nas regiões de adaptação) e estabilidade de produção mesmo em condições de seca e elevadas temperaturas, demonstrando grande rusticidade.

A resistência ao M. incognita é uma característica estratégica no Oeste da Bahia e no Mato Grosso, regiões onde o sistema produtivo normalmente envolve a cultura do algodão, que também é afetada pelo nematoide das galhas M. incognita. Nos ensaios de competição, obteve 69% de vitórias, tendo sido 3,9% mais produtiva que a média dos padrões. De acordo com empresas de consultoria do Oeste da Bahia, obteve rendimento diário médio de 42 kg/ha/dia nas médias dos ensaios conduzidos pela Embrapa e parceiros na safra 2020/21.

Sebastião Pedro lembrou que um grande desafio na região é o estresse hídrico, fator que mais retira produtividade das lavouras. “No nosso programa de melhoramento genético, testamos na Embrapa Cerrados todos os materiais com metodologias que nos permitem diagnosticar a resistência ao estresse hídrico”, informou o chefe geral, acrescentando que as quatro novas cultivares foram aprovadas nesses testes com grau satisfatório, garantindo a produtividade nessa condição adversa.

Ele informou que as novas cultivares são as primeiras selecionadas em ambientes tratados com novos insumos agrícolas, como remineralizadores de solos e bioinsumos, tecnologias que têm sido desenvolvidas pela Embrapa, respectivamente, para melhorar a eficiência das plantas no uso dos fertilizantes e no controle de pragas e doenças, além de diminuírem a dependência tecnológica do Brasil em relação a insumos sintéticos importados. 

“Gerenciar os custos é um grande desafio para o agricultor hoje. Esses quatro novos materiais foram submetidos à produção utilizando bioinsumos e remineralizadores de solo, garantindo um custo em torno de 20% a 30% menor. Então, eles já saem adaptados a essas tecnologias, que são cada vez mais adotadas pelos agricultores”, explicou.

Aproveitar a oferta ambiental do Bioma Cerrado, que tem períodos de seca e de chuva bem definidos, é outro importante desafios dos produtores. As quatro cultivares foram avaliadas quanto à eficiência (medida pela produção diária) por kg/ha/dia, visando ao melhor aproveitamento das condições ambientais. A ideia é que, além de soja, uma mesma área possa produzir uma segunda safra de algodão ou de milho e uma terceira safra com forrageiras para alimentar o gado e formar biomassa suficiente para a realização do plantio direto na palha.

Desenvolvimento inicial dos materiais genéticos

O pesquisador Carlos Arrabal Arias, da Embrapa Soja, fez uma apresentação sobre os recursos genéticos e as bases tecnológicas do programa nacional de melhoramento genético de soja da Embrapa, do qual é líder. Ele explicou o funcionamento do programa, abordando a estrutura, os projetos componentes, a equipe e a infraestrutura.

A produtividade e a estabilidade, não só para a cultura da soja, mas para todo o sistema de produção, são os principais objetivos gerais do programa, que também busca ciclo adequado, tipo de planta adequado, resistência às doenças e aos nematoides e resistência a insetos-pragas. Entre os diversos objetivos específicos, está a obtenção de materiais com alto teor de proteína e qualidade e quantidade do óleo. 

“O melhorista busca variedades BRS com plantas compactas, com entrenós curtos e grande capacidade produtiva. E uma estrutura de planta mais arejada, com folhas mais estreitas, o que vai ajudar a reduzir os problemas fitossanitários e facilitar o controle químico quando ele for necessário”, completou Arias.

Como base para o melhoramento genético, a Embrapa conta com o maior Banco Ativo de Germoplasma (BAG) em variabilidade genética de soja do mundo, com mais de 55 mil acessos convencionais e transgênicos. Em vídeo apresentado no evento, o pesquisador Marcelo de Oliveira, curador do BAG, localizado na Embrapa Soja, mostra o trabalho de conservação da diversidade genética da soja.

Arias falou sobre as plataformas de melhoramento genético da soja em andamento na Embrapa – soja convencional (desde 1973), Roundup Ready® (desde 1997), Intacta RR2 PRO® (desde 2010), Roundup Ready 2 Xtend (desde 2018) e Intacta 2 Xtend (desde 2018) –, bem como as demandas atuais e futuras, como resistência a doenças e tolerância a pragas, a nematoides, à seca e a altas temperaturas; teor de proteína acima de 39%; alto teor oleico e baixo teor linolênico.

Ferramentas de biotecnologia têm sido associadas a técnicas de melhoramento genético clássico nas plataformas de melhoramento genético da Embrapa. A pesquisadora Francismar Marcelino-Guimarães, da Embrapa Soja, explica em vídeo o trabalho do laboratório de genética molecular e seleção assistida e a contribuição das estratégias moleculares para acelerar o desenvolvimento das cultivares e para a qualidade genética dos materiais.

Entre 2015 e 2020, a Embrapa e parceiros lançaram 50 cultivares de soja, sendo 16 convencionais, 22 RR e 12 IPRO. Todas apresentam resistências obrigatórias a doenças (cancro da haste, mancha olho-de-rã, pústula bacteriana e podridão radicular fitóftora). Arias destacou variedades que agregam outras características desejáveis, como resistência à ferrugem asiática (tecnologia Shield), tolerância aos percevejos (tecnologia Block), alta produtividade e estabilidade, além de resistência a nematoides. 

Como perspectiva futura para o programa de melhoramento genético de soja da Embrapa, o pesquisador citou a parceria com a empresa Alvaz Agritech para fenotipagem em larga escala.

Seleção e avanço de geração no campo

Após o desenvolvimento inicial na Embrapa Soja, as variedades indicadas para o Centro-Norte do Brasil são testadas em diversos pontos antes de serem disponibilizadas ao setor produtivo. Líder do projeto de melhoramento genético de soja da Embrapa para a região, o pesquisador André Ferreira, da Embrapa Cerrados, fez uma apresentação sobre o trabalho, focado na busca de cultivares adaptadas e com altas produtividades, conforme as demandas do setor produtivo.

“Há uma certa estagnação da produtividade média da soja. Temos o desafio de aumentar produtividade e área em função da demanda mundial dessa proteína. Os novos desafios vão surgindo e o nosso papel é trazer variedades que tragam resistências múltiplas a doenças, aos nematoides e aos insetos-praga”, afirmou Ferreira, acrescentando o desafio de trabalhar com novas biotecnologias como a Roundup Ready 2 Xtend e a Intacta 2 Xtend.

Ele apontou que ainda há um número limitado de cultivares com resistências múltiplas a pragas e doenças e adaptadas às condições edafoclimáticas do Centro-Norte brasileiro. Além disso, os crescentes problemas fitossanitários com pragas (sobretudo nematoides, percevejos e lagartas), doenças (principalmente a ferrugem asiática) e plantas daninhas colocam em risco a sustentabilidade da cadeia produtiva nacional de soja.

Para a obtenção de variedades superiores, são observados a variabilidade genética, o número de progênies avaliados, a qualidade da pesquisa, a capacidade e a abrangência dos testes e a equipe de pesquisa. “Além do conhecimento, o trabalho envolve uma certa arte na observação das cultivares linhagens que têm características importantes e serão futuras cultivares”, explicou o pesquisador.

Ao mostrar o esquema em funil do melhoramento genético, ele acrescentou que todos os testes são feitos para garantir que um determinado material é distinguível, homogêneo, estável, tem características importantes nas macrorregiões sojícolas onde se pretende lançá-lo.

Diversos centros de pesquisa – Embrapa Roraima, Embrapa Agrossilvipastoril, Embrapa Meio-Norte, Embrapa Amapá, Embrapa Amazônia Oriental, Embrapa Rondônia e Embrapa Cocais – no Centro-Norte do Brasil atuam em conjunto com a Embrapa Cerrados e a Embrapa Soja nos 45 pontos de testes na região, além das fundações e dos produtores, que encaminham as demandas à pesquisa.

“É importante que tenhamos essa conversa direta com o produtor para que o planejamento dos cruzamentos seja sólido e em função das necessidades que ele apresenta agora, para que possamos assim lançar cultivares com segurança e alta qualidade”, comentou Ferreira.

O pesquisador anunciou que algumas variedades com a tecnologia Shield serão lançadas em 2022. “O produtor deixará de fazer talvez uma a duas entradas (com fungicida) na área. Isso significa redução de custo na produção de soja. É uma tecnologia prioritária na Embrapa e temos nos dedicado a isso”, afirmou. Também apontou que algumas linhagens com a tecnologia Block, que confere tolerância aos percevejos, estão sendo testadas, e que possivelmente alguma variedade poderá ser lançada para o Centro-Norte no próximo ano.

Ferreira também abordou a instalação dos ensaios, os testes de progênies e os ensaios de valor de cultivo e uso (ou finais) realizados tanto na Embrapa como em fazendas de produtores parceiros, seguindo o manejo adotado nas propriedades nas regiões produtoras.

As ações locais de pesquisa, seleção e recombinação gênica baseadas nas condições dos diferentes ambientes de produção de soja do Centro-Norte foram apresentadas em depoimentos gravados pelos pesquisadores da Embrapa Soja Odilon de Mello e Roberto Zito (Goiás); pelo técnico da Nilton Almeida (Planalto Central) e pelo pesquisador Geraldo Carneiro (MATOPIBA), ambos da Embrapa Cerrados; e pelo pesquisador da Embrapa Roraima (Boa Vista, RR), Vicente Gianluppi (Cerrado de Roraima).

No encerramento do evento, o chefe geral da Embrapa Cerrados destacou a importância da conexão da Embrapa com o agricultor brasileiro tanto na percepção das demandas como na busca de soluções tecnológicas. “Falamos como pesquisadores, com base em números e dados da pesquisa científica. Mas o mais importante é o agricultor plantar os materiais e observar por ele mesmo o resultado, as soluções que eles trazem da porteira para dentro e, depois, da porteira para fora, na economia brasileira”, finalizou Sebastião Pedro.

Janaina Honorato
Janaina Honorato
Jornalista especialista em agronegócio com formação em marketing digital. Experiência de 9 anos com comunicação para o agronegócio em reportagens de TV, rádio, impresso e internet.
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