O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, deve dar, nesta quarta-feira, um passo que vai mexer não só com a maior economia do planeta, mas com a da maioria dos outros países. O Fed deve elevar em 0,5 ponto percentual a taxa de juros americana. Será a segunda elevação desde 2018.
Nesta quarta-feira, que é chamada pelos investidores de “superquarta”, o Banco Central do Brasil também decide a elevação da taxa básica de juros (Selic).
O país é um dos mais afetados pela alta dos juros nos EUA, e os efeitos já são sentidos na Bolsa de São Paulo, a B3. Para analistas, será difícil evitar a perda de capitais para os EUA.
Geralmente a alta dos juros nos EUA drena capitais que estão em países em desenvolvimento. O apetite por risco cai diante de maior perspectiva de ganhos nos EUA. Soma-se a isso as crescentes incertezas na China, que enfrenta novos surtos de Covid com impacto na atividade econômica.
— Os Treasuries de dez anos estão indo para patamares altos. O dólar se fortalecendo lá fora e esse componente de dúvida sobre o crescimento global da China deixa as moedas emergentes mais suscetíveis a sofrer – observa o economista e sócio da Monte Bravo Investimentos Luciano Costa.
Por que isso importa para os outros países?
Os Estados Unidos não são o único país do mundo com juros em alta para controlar a inflação. No Brasil, por exemplo, o mercado espera que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decida hoje elevar a Selic dos atuais 11,75% para 12,75%.
O alvo é a inflação também em dois dígitos, mas o impacto certamente será sentido na atividade econômica, como nos investimentos, dificultando a retomada do crescimento da economia.
Para Maurício Pedrosa, gestor da Arena Investimentos, os bancos centrais de todo o mundo estão em uma encruzilhada devido ao cenário global de inflação alta, mas crescimento desacelerando.
— Se eles apertarem a política monetária, podem contratar uma recessão. E se afrouxarem, podem alongar o ciclo de inflação, o que também traz problemas para a economia (dos EUA).
O problema é que os juros altos atraem capitais que poderiam financiar investimentos em outros países. Os bancos centrais ficam mais pressionados a também elevar juros e o dólar fica mais valorizado, afetando o câmbio em várias economias.
Por outro lado, se os EUA entram em recessão, um dos principais motores da economia global perde força num momento de fragilidade da China. O gigante asiático, segunda maior economia do mundo, tem atividades econômicas prejudicadas por novos surtos de Covid. Os dois países têm forte impacto no comércio mundial.