O programa nacional sobre cadeias produtivas descarbonizadas está sendo finalizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que concluiu consulta pública sobre o tema no dia 13 de maio de 2022.
A caracterização de produtos dessas cadeias está sendo organizada em eixos, de acordo com Alexandre de Oliveira Barcellos, da Secretaria e Desenvolvimento Sustentável de Irrigação e Inovação do Mapa, que apresentou palestra no painel Descarbonização dos sistemas de produção de soja: avanços e perspectivas, esta semana, durante o IX Congresso Brasileiro de Soja e do Mercosoja 2022, eventos realizados pela Embrapa Soja, em Foz do Iguaçu (PR).
O Mapa está buscando desenvolver um modelo de comércio voluntário de carbono, a partir do estabelecimento de diretrizes mínimas para mitigar a emissão de gases de efeito estufa (GEEs) e acumular esse carbono. ”Nosso papel é criar protocolos para mensurar as melhorias no sistema produtivo – com base em conhecimento científico – confirmando se o carbono foi mitigado ou acumulado no sistema”, destaca.
Os três eixos da proposta estão focados em incentivar estratégias de mitigação da emissão de GEEs. “Neste caso, são produtos que adotam componentes de produção que mitigam a emissão como por exemplo, a semeadura de soja em plantio direto, sistema que reduz a pegada de carbono, portanto, diminui as emissões”, explica Barcellos. Outro eixo está ancorado no favorecimento de acúmulo de carbono no solo, por meio de práticas conservacionistas como Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta.
Segundo Barcellos, há ainda as ações que favorecem o estoque de carbono no solo, modelo que passa pela agricultura, mas está mais focado no processo industrial. Neste caso, a proposta é converter, por exemplo, CO2 da biomassa da produção de etanol de milho em líquido para ser injetado em camadas profundas do subsolo. “É o que denominamos de despetrolização do processo, porque estaremos estocando carbono em profundidade”, explica Barcellos.
Tecnologias para mitigar GEEs em soja
Durante o painel, Marcela Paranhos, da IDH -The sustainable Trade Initiative – abordou as oportunidades de agregação de valor a produtos baixo carbono/carbono neutro. Por outro lado, o professor Cimélio Bayer, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, enfatizou o uso de tecnologias de manejo do solo para mitigação de GEEs em sistemas de produção de soja.
Mesmo com as probabilidades de aumento do aquecimento global e de mudanças na distribuição de água, o professor entende que a agricultura pode minimizar os impactos negativos das mudanças climáticas adotando práticas sustentáveis. As alternativas passam pela redução nas emissões de dióxido de carbono, óxido nitroso e metano e aumento na fixação de carbono no solo.
“As estratégias de mitigação devem estar ancoradas na máxima eficiência no uso de insumos – fertilizantes e defensivos para tratamento fitossanitário – e racionalização nas operações agrícolas”, defende. “É preciso buscar equilíbrio entre as emissões e o sequestro de carbono deixando positivo o balanço no processo produtivo”, explica.
Bayer defende que quanto maior a quantidade de resíduo adicionado, maior o carbono acumulado no solo. Neste sentido, a diversificação de culturas e o plantio direto são práticas que favorecem o acúmulo de carbono, ao contrário do solo que é deixado em pousio.
Na palestra, o professor compartilhou ainda resultados de pesquisa, realizados no Paraná e em Mato Grosso, em que as práticas conservacionistas, além de favorecer o sequestro de carbono, aumentam a produtividade da soja e melhoram a qualidade dos solos ao longo do tempo. “O foco do produtor é a produtividade, mas ao adotar o sistema de plantio direto e não o convencional, por exemplo, está atuando também na redução da pegada de carbono na cultura da soja, o que é muito positivo”, enfatiza.